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Talvez fossem bruxas

Por Tácio Júnior

Talvez nunca tenham sido mulheres comuns. Talvez o mundo as tenha confundido com incêndios, quando tudo o que carregavam era um pouco mais de luz do que o permitido.

Dizem que tinham cabelos cor de cobre — quem sabe, para combinar com o outono das coisas que tocavam. Talvez fossem ruivas, sardentas, leitoras de silêncios e luas. Talvez soubessem, desde cedo, que o amor não cabia em moldes nem em promessas.

Há quem jure que preparavam poções — mas quem nunca misturou ervas e esperanças numa manhã de dor? Talvez tivessem apenas o dom raro de escutar o que a realidade sussurra entre um sonho e outro.

Talvez deixassem bilhetes em livros, ou cantassem baixinho enquanto lavavam a alma. E fosse isso: um feitiço cotidiano.

Pode ser que não se chamassem de guerreiras. Mas havia algo no modo como enfrentavam o mundo — os olhos, por exemplo, pareciam saber mais do que diziam. Talvez amassem com uma entrega inquieta, como quem oferece o coração e já antecipa o incêndio.

Talvez ainda andem por aí — misturadas à multidão — com seus caldeirões de ideias, suas vassouras de limpar dores, seus gatos que escutam mais que psicólogos. Talvez sejam professoras, gestoras, mães, andarilhas. Talvez só estejam cansadas de serem julgadas por existirem com tanta intensidade.

Talvez nunca tenham sido bruxas.

Ou talvez sejam exatamente isso:
Mulheres que, mesmo após tantas fogueiras, ainda insistem em amar.

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