Sob ataques e ofensas, Marina Silva enfrenta bancada ruralista no Congresso

Deputado do PP chamou a ministra de ‘adestrada’, ‘mal-educada’ e afirmou que ela ‘nunca trabalhou, nunca produziu’. Marina, que foi convocada para comissão na Câmara, rebateu ataques.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, voltou a ser alvo de ataques de parlamentares nesta quarta-feira (2), ao comparecer ao Congresso para prestar esclarecimentos sobre queimadas e desmatamento.

Convocada para falar na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, Marina foi interrompida diversas vezes pelo deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES). Ele afirmou que a ministra faz um “adestramento de esquerda” e que tem um “discurso golpista que vale para um lado e não para outro”.

Ainda durante a fala, Evair acusou Marina de não entender o agronegócio por “nunca ter trabalhado” e disse que ela é alinhada a “ONGs internacionais”.

“A senhora tem dificuldades com o agronegócio, porque a senhora nunca trabalhou, a senhora nunca produziu, não sabe o que é prosperidade construída pelo trabalho. Todo mundo sabe, o mundo sabe que a senhora tem um discurso alinhado com essas ONGs internacionais”, afirmou o parlamentar.

Em outro momento, o parlamentar a chamou de “mal-educada” e repetiu a expressão usada em outubro do ano passado, quando acusou Marina de ter sido “adestrada” para não responder perguntas durante outra audiência na mesma comissão. Na ocasião, Marina rebateu imediatamente e afirmou que não aceitaria ser chamada de adestrada.

Nesta quarta, Marina reagiu dizendo que prefere “receber injustiça do que praticar injustiça”. “Fui terrivelmente agredida”, disse a ministra, que contou ter feito uma longa oração antes da audiência. “Estou em paz”, completou.

Os ataques não ficaram restritos a Evair. O deputado Zé Trovão (PL-SC) disse que Marina é uma “vergonha como ministra”, enquanto o Capitão Alberto Neto (PL-AM) sugeriu que ela deveria “pedir demissão”. Já o presidente da comissão, Rodolfo Nogueira (PL-MS), afirmou que a gestão ambiental de Marina protagoniza “um dos capítulos mais desastrosos da política ambiental”, citando números distorcidos sobre o desmatamento.

Apesar das críticas, dados do Prodes, sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram queda no desmatamento da Amazônia desde que Marina reassumiu o ministério, passando de 10,36 mil km² em 2022 para 9,06 mil km² em 2023, e para 6,28 mil km² em 2024. Até maio deste ano, os alertas do Deter apontaram 2 mil km².

Marina explicou que a alta das queimadas em 2024 se deveu à pior seca já registrada no país, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden).

“[…] Qualquer pessoa que não seja negacionista sabe que a seca com baixa precipitação, temperatura alta, perda de umidade, potencializa os incêndios, potencializa em todos os níveis”, disse a ministra.

Levantamento do MapBiomas apontou que o Brasil perdeu 30 milhões de hectares em queimadas no ano passado, 62% acima da média histórica. Só entre agosto e outubro ocorreram 72% dos focos de incêndio de todo o ano.

Os ataques desta quarta repetem o que ocorreu em maio deste ano, quando Marina abandonou uma audiência no Senado após ser alvo de comentários considerados machistas. Na Comissão de Infraestrutura, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) disse que queria “separar a mulher da ministra”, porque a mulher “merecia respeito” e a ministra, não. Marina exigiu desculpas e, sem retratação, deixou a sessão.

Em março, o mesmo senador já havia declarado ter sentido vontade de “enforcar” Marina durante uma CPI. À época, a fala foi alvo de críticas e representações por quebra de decoro.

Ministra histórica na pauta ambiental brasileira, Marina Silva vem enfrentando resistência de parlamentares ligados ao agronegócio desde que reassumiu o comando da pasta. Ainda assim, mantém a defesa de políticas de redução de desmatamento, combate a queimadas e preservação da Amazônia.

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