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Sem paredes, sem piso e sem água: Fantástico expõe rotina de alunos que estudam em curral no interior do Acre

Espaço improvisado em Bujari abriga crianças e adolescentes sem piso, paredes ou água encanada; Após denúncia, governo do Acre promete nova escola em 40 dias.

Uma reportagem exibida neste domingo (8) pelo Fantástico, da TV Globo, revelou a dura realidade enfrentada por estudantes da comunidade Limoeiro, na zona rural de Bujari, no interior do Acre. Crianças e adolescentes têm assistido às aulas em um antigo curral, adaptado de forma improvisada como sala de aula.

Sem paredes, piso ou água encanada, o espaço precário foi transformado na única alternativa de acesso à educação para moradores da região. No local, os alunos convivem com o barro, o calor e a ausência de infraestrutura básica.

O estudante Thiago de Andrade, de 16 anos, enfrenta o calor e o barro para seguir aprendendo no espaço improvisado. Foto: Reprodução/Fantástico

Todos os dias, Janaína Costa, de 16 anos, cavalga por uma hora até chegar à escola improvisada. Thiago de Andrade, da mesma idade, descreve o ambiente. “Esse sol aqui, daqui a mais uma horinha, vai estar dando na cara de todo mundo. Porque não tem parede, né? E pra completar, não tem assoalho. É pé no chão. É terra. Se chove, mela.”

A única professora da unidade é Graciele Amorim, que trabalha em dois turnos e ainda prepara a merenda escolar. “Venho de manhã e só saio às cinco horas”, contou. “Chego às seis e meia.” Ela dá aulas para turmas de diferentes séries, sem apoio pedagógico direto.

A professora Graciele Amorim dá aulas para turmas de diferentes séries e ainda prepara a merenda escolar sozinha, nos dois turnos. Foto: Reprodução/Fantástico

Mesmo com dificuldades, os estudantes ajudam na rotina da escola. Kayanny de Souza, de 13 anos, varre a cozinha, lava as panelas e ajuda a corrigir os cadernos. “O recreio é isso aqui. Lavar louça”, diz, entre risos. A água utilizada vem da casa de um vizinho. O banheiro, recém-construído, tem descarga feita com baldes.

Estrutura abandonada

Segundo o governo do Acre e a prefeitura de Bujari, os alunos foram levados ao curral improvisado porque não conseguiam chegar à escola-sede, a 10 quilômetros dali. A equipe do Fantástico visitou o prédio principal, mas encontrou a escola fechada. No local, dois dos três banheiros estavam interditados, havia livros sujos, paredes descascadas e até um ninho de marimbondos no chuveiro.

A coordenadora da rede educacional no município, Rocilda Gomes — que é esposa do prefeito de Bujari —, afirmou que não concordava com o retorno das aulas no anexo. Disse ainda que a própria comunidade pediu o reinício, mesmo diante da precariedade.

Estrutura improvisada funciona como sala de aula para alunos da comunidade Limoeiro, na zona rural do Acre. Foto: Reprodução/Fantástico

O secretário estadual de Educação, Aberson de Souza, reconheceu as dificuldades e anunciou a construção de uma nova escola com melhores condições. “Temos um prazo de 40 dias para entrega. O custo da educação no campo é muito alto”, afirmou.

Apesar da promessa, as aulas no antigo curral continuam. “Não serão suspensas. Temos um calendário a cumprir. Um dia de verão é precioso, porque, no inverno, não tem aula”, completou o secretário.

A professora Graciele, emocionada, resumiu o sentimento de quem permanece lutando. “Meu sonho é permanecer, ser feliz e continuar trabalhando. Eu sou a base aqui.”

O que diz o governo do Acre

Em nota, o governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE), afirmou que a escola improvisada foi implantada a pedido da própria comunidade, como forma de garantir o acesso à educação em áreas isoladas. O Estado garante que, mesmo diante das limitações, tem mantido professores, materiais didáticos e merenda escolar no local.

Segundo o governo, a nova unidade escolar — feita de madeira e com estrutura mais adequada — está em fase final de construção, com previsão de entrega em 40 dias. A nota também destaca que o Acre mantém atualmente 420 escolas do campo e indígenas, atendendo cerca de 17% dos alunos da rede pública estadual, e investe cerca de R$ 70 milhões por ano na construção e manutenção escolar.

“O governo do Acre segue trabalhando, passo a passo, para reduzir desigualdades históricas e garantir, cada vez mais, a presença do professor, da merenda escolar e das estruturas físicas adequadas, respeitando os limites orçamentários e a complexidade logística da Amazônia”, conclui a nota assinada pelo secretário Aberson Carvalho de Sousa.

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