Durante interrogatório sobre tentativa de golpe, ex-presidente diz não ter indícios contra ministros e classifica fala como “desabafo retórico” em reunião reservada.
Em um dos momentos mais aguardados da retomada das audiências no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu desculpas ao ministro Alexandre de Moraes por acusações feitas no passado. O gesto, ocorrido nesta terça-feira (10), marcou o tom defensivo de Bolsonaro durante seu interrogatório no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado em 2022.
Ao ser questionado por Moraes sobre declarações anteriores em que sugeriu, sem provas, que ministros do STF teriam recebido propina nas eleições, Bolsonaro recuou.
“Quais eram os indícios que o senhor tinha que nós estaríamos levando U$S 50 milhões, U$S 30 milhões?”, perguntou Moraes.
“Não tem indício nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei”, respondeu o ex-presidente. Em seguida, acrescentou: “Se fossem outros três ocupando, teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”.
A declaração foi feita diante da Primeira Turma do STF, que conduz os interrogatórios dos réus do chamado “núcleo crucial” — grupo apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como o centro da articulação para romper a ordem democrática no país.
Antes mesmo de prestar depoimento, Bolsonaro chegou ao plenário dizendo que poderia “falar por horas” se tivesse liberdade. Moraes negou pedido da defesa do ex-presidente para exibir vídeos durante seu interrogatório sobre a suposta trama golpista. Segundo o ministro, os advogados podem juntar os vídeos no processo.
Ao ser questionado pelos jornalistas sobre os vídeos, Bolsonaro reagiu com ironia. “Não achei nada”.
Quem são os outros réus
O ex-presidente é o sexto a prestar depoimento nesta etapa do processo. Na véspera, foram ouvidos Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, e o deputado federal Alexandre Ramagem. Na manhã desta terça-feira, foi a vez do almirante Almir Garnier, do ex-ministro da Justiça Anderson Torres e do general Augusto Heleno, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional.
Além desses nomes, também integram o núcleo investigado os generais Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto — todos com cargos estratégicos durante o governo Bolsonaro.
Segundo a PGR, o grupo teria atuado de forma coordenada para abolir violentamente o Estado Democrático de Direito. A denúncia também inclui os crimes de golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Com os interrogatórios em andamento, o processo entra na reta final da chamada instrução processual — a fase em que se reúnem provas e se colhem os depoimentos dos acusados. Concluído esse estágio, o STF abrirá prazo de 15 dias para as alegações finais da defesa e da acusação, antes do julgamento definitivo pela Primeira Turma da Corte.