Animais seriam destinados à merenda escolar; ICMBio denuncia ação como tentativa de obstruir a fiscalização ambiental na Reserva Chico Mendes.
Um grupo criminoso invadiu, na madrugada desta terça-feira (17), um frigorífico em Brasiléia, no interior do Acre, e roubou cerca de 137 de cabeças de gado que haviam sido apreendidas pela Operação Suçuarana, conduzida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes.
De acordo com nota divulgada pelo ICMBio, os invasores destruíram parte do muro, romperam cadeados e levaram os animais, que estavam no local aguardando o abate. O gado seria destinado à merenda escolar de crianças da região, como parte de uma ação do governo federal para dar uma destinação social ao rebanho ilegal apreendido.
O instituto informou que o dono do frigorífico da empresa Norte Carnes, onde o gado foi furtado, também vem sofrendo ameaças de morte. O órgão classificou o episódio como um “ato criminoso” e reforçou que a ação se soma a outras tentativas de inviabilizar o trabalho de fiscalização ambiental na região.
Também por meio de nota, o frigorífico se manifestou sobre o ocorrido afirmando que não compactua com a Operação Suçuarana e que “foi pego de surpresa com a chegada dos animais”. A empresa declarou ainda que não irá realizar o abate e disse ter pedido formalmente a retirada do gado.
O ICMBio, por sua vez, contestou a versão da empresa e afirmou que a negociação foi feita de forma comercial. “Nós negociamos com o frigorífico, oferecemos a entrega do gado e eles aceitaram receber, com pagamento. Foi uma negociação comercial. Depois, a partir das ameaças, eles começaram a divulgar que foi uma imposição, o que não é verdade. Provavelmente, deixaram o frigorífico sem vigilância e, por isso, o gado foi furtado”, informou o órgão.
No total, 196 animais apreendidos na operação estavam no frigorífico aguardando o processo de abate.
Desde o início da Operação Suçuarana, no dia 5 junho, equipes do ICMBio têm atuado para coibir a criação ilegal de gado dentro da reserva, uma unidade de conservação federal criada para garantir a preservação ambiental e os direitos das populações extrativistas.
O ICMBio informou que todas as providências estão sendo tomadas para que a operação prossiga com “êxito”.
Ataques contra a fiscalização
O roubo do gado ocorre em meio a uma escalada de ataques contra a Operação Suçuarana e os servidores envolvidos nas ações de campo. No último domingo (15), três homens foram presos nas proximidades da base do ICMBio, no Seringal Nova Esperança, dentro da Resex Chico Mendes. Eles portavam gasolina e são investigados por uma possível tentativa de ataque ao acampamento dos fiscais. Segundo o ICMBio, os suspeitos foram soltos no mesmo dia. Ninguém ficou ferido na ação.
Durante a mesma madrugada, outros atos de sabotagem foram registrados. Criminosos incendiaram uma ponte que dá acesso ao seringal, cortaram cercas e bloquearam estradas usando pedaços de pau em chamas para dificultar o tráfego na região. Também houve uma tentativa de incêndio no acampamento da equipe de fiscalização.
Todas as ocorrências foram comunicadas às autoridades competentes, incluindo órgãos de segurança pública e o Ministério Público Federal, que acompanham o caso e apuram os crimes.
Apesar das tentativas de obstrução, a Operação Suçuarana continua em andamento. Até essa segunda-feira (16), pelo menos 400 cabeças de gado criadas ilegalmente dentro da reserva já haviam sido apreendidas, além disso, foram aplicados cinco autos de infração e R$ 1.185.336 em multas.
O ICMBio destaca que a operação tem como foco o combate à pecuária clandestina em áreas protegidas. Os alvos são invasores que, segundo o órgão, já haviam sido notificados administrativamente e possuem decisões judiciais transitadas em julgado determinando a retirada do gado.
O instituto reforça que todas as providências estão sendo tomadas para garantir a continuidade da fiscalização e que os responsáveis pelos ataques poderão responder por crimes federais de obstrução de fiscalização ambiental.
Operação Suçuarana
Desde o dia 5 de junho, agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estão acampados no interior da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Acre, executando as ações da Operação Suçuarana. Com apoio de diversas forças de segurança, a fiscalização seguirá por tempo indeterminado, com foco no combate à pecuária ilegal de grande porte — apontada como o principal fator de desmatamento na unidade de conservação federal.
O trabalho de campo teve início com a retirada dos primeiros animais ilegais no dia 9 de junho, quando 20 cabeças de gado foram apreendidas em área embargada e encaminhadas a um frigorífico da região. A meta da operação é remover cerca de 400 bovinos mantidos de forma irregular na reserva, que abrange sete municípios acreanos: Sena Madureira, Rio Branco, Capixaba, Xapuri, Brasiléia, Epitaciolândia e Assis Brasil.
A Resex Chico Mendes é, atualmente, a unidade de conservação federal mais desmatada do país. Monitoramentos realizados pelo ICMBio indicam que a pecuária de grande porte, conduzida em desacordo com as regras das áreas protegidas, é a principal responsável pela destruição da floresta na região.
Segundo o instituto, os alvos da Operação Suçuarana são invasores que já haviam sido notificados administrativamente e que possuem decisões judiciais transitadas em julgado, determinando a retirada do gado e a suspensão das atividades econômicas ilegais.
Além da remoção dos animais, os infratores também estão sendo autuados por outras condutas ilícitas identificadas durante a fiscalização, como obstrução das ações de fiscalização e impedimento da regeneração da vegetação nativa. Os fiscais relataram que o gado estava sendo mantido em áreas proibidas, impedindo a recuperação da floresta.
A Operação Suçuarana conta com o apoio do Batalhão de Polícia Militar Ambiental do Acre (BPA), Força Nacional (FN), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF), Exército Brasileiro (EB), Ministério Público Federal (MPF) e do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Acre (IDAF).
Confira a nota do ICMBio
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) vem a público repudiar e denunciar a ação criminosa que ocorreu nesta madrugada (17) na cidade de Brasiléia, no Acre, quando um grupo invadiu o frigorífico onde estava armazenado o gado ilegal apreendido pela Operação Suçuarana, realizada na Reserva Extrativista Chico Mendes. Este ato criminoso se soma a ameaças de morte ao dono do frigorífico.
Este grupo destruiu o muro, rompeu o cadeado do local, soltou e roubou dezenas de cabeças de gado que seriam abatidos e destinados à merenda escolar de milhares de crianças. Esta é mais uma ação de criminosos que tentam, desde o início da operação, inviabilizar a ação dos órgãos federais que combatem a criação ilegal de gado em terras publicas.
O Instituto Chico Mendes reitera que está tomando todas as providências para que a operação prossiga com êxito. Estas ações criminosas, que constituem crime federal de obstrução de fiscalização, serão apuradas pela polícia.
Nota da empresa Norte Carnes
A empresa Norte Carnes vem por meio desta esclarecer que não compactua com os fatos ocorridos na operação Suçuarana, que a empresa também foi pega de surpresa quanto a chegada dos animais em sua estrutura, pois o que foi informado é que o gado seria levado pra outro frigorífico e que devido à dificuldade no transporte levaram até lá.
A empresa foi informada que se tratava de cumprimento de uma ordem judicial, por isso não teve como recusar o recebimento, desde então a empresa e seus funcionários viraram alvos de várias acusações e ameaças que isto está gerando vários problemas para a mesma.
Devido aos fatos informamos que a partir deste momento a empresa não irá abater mais nenhuma cabeça de gado proveniente desta operação é que o gado que está no curral foi solicitado para o órgão que realizou a apreensão fazer a retirada do mesmo.
