Por Tácio Júnior
Existe uma fórmula do amor?
É sabido que a química corporal influencia as emoções — e também se altera com elas.
É uma simbiose física e metafísica, entre química e sentimento, carne e espírito, corpo e alma.
Logo, tal fórmula seria pura alquimia.
Um símbolo da transformação interior, da busca por algo sublime, raro e essencial.
Sendo assim, procuramos o amor ou ele nos encontra?
Como o amor entra nas nossas vidas?
É preciso abrir a porta e convidá-lo a entrar, sentar-se e tomar posse do ambiente?
E se, em tese, a alquimia trabalha com a ideia de coincidentia oppositorum, ou a união dos opostos, não importa se fechamos as portas para o amor — é compreensível que ele simplesmente nos invadirá sem ao menos pedir licença. E ali fará morada mesmo que não queiramos.
Da mesma forma como o amor une razão e emoção, e corpo e espírito convivem em harmonia simbiótica, tal qual luz e sombra em uma dicotomia maniqueísta, eu e o outro nos unimos ardendo de amor mesmo que sem querer.
Em uma relação feita de instintos e mistérios, de silêncios que falam e olhares que queimam.
Porque o amor, por essência, é desordem que revela uma nova ordem.
Ele chega quando estamos distraídos, se instala como quem já morava ali. Não pede senha nem cartão de visita. Apenas entra — e nos vira do avesso.
De repente, já não somos os mesmos. A lógica perde o fio. O tempo muda de ritmo. A gente começa a pensar em plural. Dorme com o coração acordado. E vive com a alma exposta.
Amar é aceitar a bagunça que vem com o outro. É permitir que nossas certezas tremam, que nossos hábitos se reorganizem. É tocar o invisível do outro com a ponta dos dedos — e ser tocado também.
Talvez a única fórmula do amor seja essa: estar inteiro diante do outro sem deixar de ser si mesmo.
É o ato revolucionário de se despir das armaduras para vestir-se de presença.
É coragem. É entrega. É risco. É milagre cotidiano.
Porque no fim, o amor é isso:
um encontro improvável entre dois mundos que decidiram dançar no mesmo compasso — mesmo tropeçando, mesmo sem ensaio, mesmo com medo.
E se for amor de verdade, não vai precisar de fórmula.
Vai precisar apenas de espaço.
E de coração disponível.