Bolsonaro em prisão domiciliar: entenda as investigações que cercam o ex-presidente

Ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão domiciliar após entender que Bolsonaro descumpriu medidas cautelares. Ex-presidente é réu em julgamento que deve começar em setembro sobre tentativa de golpe de Estado.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi colocado em prisão domiciliar por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão, assinada nesta segunda-feira (4), foi motivada pelo descumprimento de medidas cautelares impostas desde julho, entre elas a proibição de uso de redes sociais, mesmo que por intermédio de terceiros.

Além da prisão domiciliar, Moraes determinou a proibição de visitas, exceto de familiares próximos e advogados, e a apreensão de todos os celulares encontrados na casa do ex-presidente, em Brasília.

A defesa de Bolsonaro nega que tenha havido qualquer violação às determinações da Justiça.

Por que Bolsonaro está em prisão domiciliar?

Segundo o ministro Moraes, Bolsonaro utilizou redes sociais de aliados, incluindo seus filhos parlamentares, para divulgar mensagens com teor de ataque ao STF e apoio a uma intervenção estrangeira no Judiciário brasileiro.

O episódio decisivo foi a publicação de um vídeo no perfil do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no último domingo (3), em que o ex-presidente aparece incentivando manifestantes em um ato no Rio de Janeiro. A postagem foi deletada horas depois, mas, para Moraes, a exclusão apenas confirma o caráter ilegal da conduta:

“O flagrante desrespeito às medidas cautelares foi tão óbvio que o próprio filho do réu (…) decidiu remover a postagem”, escreveu o ministro na decisão.

O que motivou as medidas cautelares?

As primeiras restrições foram impostas em 18 de julho, quando o STF identificou indícios de que Bolsonaro estaria tentando obstruir investigações no processo em que é réu por tentativa de golpe de Estado. As medidas incluíam:

Uso obrigatório de tornozeleira eletrônica;
Proibição de sair de casa à noite e nos fins de semana;
Proibição de contato com outros investigados;
Proibição de uso de redes sociais, inclusive por terceiros.

Mesmo sob essas condições, Bolsonaro apareceu em vídeos, mostrou a tornozeleira, e participou de atos públicos por telefone, como em Belo Horizonte, em conversa com o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).

Segundo Moraes, o comportamento revelou “a necessidade de medidas mais gravosas para evitar a reiteração delitiva”.

Relação com os EUA e pressão por anistia

A investigação que originou as medidas cautelares teve início após a suspeita de que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teria atuado junto ao governo dos Estados Unidos para pressionar o STF por meio de sanções econômicas ao Brasil.

A Polícia Federal afirma que o ex-presidente teria enviado US$ 2 milhões ao filho para sustentá-lo no exterior e atuado diretamente na articulação. Ambos teriam usado redes sociais e entrevistas para alimentar a tese de perseguição política.

A tensão aumentou após o ex-presidente Donald Trump anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, numa retaliação que, segundo o governo dos EUA, teve relação direta com o “tratamento dado a Bolsonaro no Brasil”.

Para Moraes, a conduta configura “tentativa de extorsão institucional”, ao condicionar o fim das sanções a uma eventual anistia judicial.

PGR viu risco de fuga e prejuízo institucional

A Procuradoria-Geral da República (PGR) defendeu medidas urgentes, alegando risco de fuga e danos ao sistema democrático.

A atuação de Bolsonaro nas redes, mesmo por meio de terceiros, reforçou a percepção de que o ex-presidente ainda exerce forte influência no ambiente político digital, driblando as restrições.

Moraes já havia alertado que uma nova infração resultaria em prisão.

“Caso haja nova desobediência, a prisão será decretada”, escreveu o ministro à época.

Situação jurídica de Bolsonaro

🔹 Ação Penal no STF

Bolsonaro é réu em ação criminal no Supremo por tentativa de golpe de Estado. A denúncia, apresentada pela PGR, envolve cinco crimes:

Tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito
Golpe de Estado
Organização criminosa armada
Dano qualificado
Deterioração de patrimônio tombado

O processo está na fase de alegações finais, e o julgamento está previsto para setembro.

🔹 Inelegibilidade

O ex-presidente está inelegível até 2030 por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE):

Uso de reunião com embaixadores estrangeiros para atacar o sistema eleitoral (julho de 2023);
Uso eleitoral das comemorações de 7 de Setembro em 2022 (outubro de 2023).

A defesa recorreu ao STF alegando inconstitucionalidade nas decisões.

🔹 Outras investigações

Bolsonaro também é investigado por outros casos no STF, incluindo:

Disseminação de fake news e ataques a ministros do Supremo
Suposta interferência na Polícia Federal
Atuação de milícia digital contra o Estado de Direito
Vazamento de dados sigilosos
Incentivo a atos violentos em 7 de Setembro
Fake news sobre a relação entre vacina e Aids
Ataques ao sistema eleitoral
Suposta interferência da PRF nas eleições
Uso indevido da Abin para espionagem política

Próximos passos

Com a prisão domiciliar decretada, Bolsonaro passa a cumprir a medida sob monitoramento mais rígido, sem acesso a celulares e redes sociais.

O cenário jurídico do ex-presidente se complica ainda mais às vésperas do julgamento que poderá condená-lo por tentativa de golpe.

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