Proposta brasileira busca fortalecer a resiliência dos sistemas de saúde frente aos efeitos do aquecimento global, com foco em vigilância, inovação e políticas baseadas em evidências.
Problemas respiratórios, cardiológicos e doenças transmitidas por mosquitos estão entre as enfermidades que devem se agravar com o avanço da crise climática. Estudos recentes indicam que 277 doenças podem ser impactadas pelos riscos climáticos, impulsionados pelas emissões contínuas de gases de efeito estufa. Além disso, 58% das doenças infecciosas conhecidas têm relação direta com fatores ambientais, como ondas de calor, enchentes e secas prolongadas.
Em resposta a esse cenário, o Brasil levará à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém (PA), o Plano de Ação em Saúde de Belém, uma proposta voltada a auxiliar países na adaptação de seus sistemas de saúde aos efeitos das mudanças do clima.
A iniciativa foi apresentada pela diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Agnes Soares, durante o programa Estúdio COP 30, do Canal Gov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
“O que há de novo nesse plano é a proposta de organizar a ação de todo o setor saúde para acelerar soluções frente à mudança do clima”, afirmou a diretora.
Segundo Agnes Soares, o plano foi construído em consulta com diversos países, universidades e movimentos sociais, e está pautado nos princípios da justiça climática e da ciência aplicada à realidade local. “Cada país tem um ponto diferente de vulnerabilidade. Por isso, o plano considera tanto a cobertura universal e a atenção primária quanto as especificidades de adaptação de cada região”, explicou.
Três frentes de atuação
A adesão ao Plano de Ação em Saúde de Belém será voluntária, mas traz medidas práticas distribuídas em três eixos principais:
- Vigilância e Monitoramento em Saúde, com foco na identificação precoce de riscos e surtos associados ao clima;
- Políticas Baseadas em Evidências e Fortalecimento de Capacidades, para orientar ações sustentáveis e formação técnica;
- Inovação e Produção Sustentável em Saúde, voltadas à redução do impacto ambiental do próprio setor.
Adapta-SUS: a experiência brasileira
A proposta nasce da experiência acumulada pelo Brasil com o Sistema Único de Saúde (SUS) e do Plano Setorial de Adaptação à Mudança do Clima da Saúde (Adapta-SUS), que estabelece diretrizes para o período de 2025 a 2035.
“O plano nasce da experiência do Brasil com o SUS, que é único no mundo em alcance e força. A participação popular, a universalidade e a equidade são princípios fundamentais para tornar o sistema mais resiliente frente às mudanças climáticas”, destacou Agnes.
O Adapta-SUS mapeou os municípios mais vulneráveis às alterações climáticas — considerando déficits de saneamento, risco de enchentes, secas prolongadas e populações em maior exposição, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pessoas em situação de rua.
“Não é que todos os municípios precisem se adaptar da mesma forma. Mas os mais vulneráveis devem ser priorizados. A mudança climática agrava o que já é precário”, afirmou a diretora, citando como exemplos os episódios de seca na Amazônia e de enchentes no Rio Grande do Sul.
Agnes Soares também ressaltou o papel central da Atenção Primária à Saúde na prevenção e mitigação dos impactos climáticos sobre a população. Atualmente, o SUS conta com 42 mil unidades básicas de saúde, 44 mil equipes de saúde da família e mais de 1.200 equipes de Atenção Básica, que atendem cerca de 123 milhões de pessoas em todo o país.
“Ela é a base do SUS, o começo de tudo. Onde não funciona a Atenção Primária, é muito mais difícil segurar esse gigante que é o sistema de saúde”, concluiu.
A COP 30, marcada para 2025 em Belém, será a primeira conferência da ONU sobre clima realizada na Amazônia, região que simboliza, ao mesmo tempo, a urgência da ação global e o potencial das soluções sustentáveis. O Plano de Ação em Saúde de Belém pretende justamente traduzir essa urgência em práticas concretas, conectando ciência, política e equidade social no enfrentamento da crise climática.


