Por Daniel Zen*
Nessa terça-feira (10), escrevi um artigo, publicado no portal “Na Proa da NotÃcia”, em que teci comentários sobre a matéria jornalÃstica veiculada no domingo, dia 8 de junho, no programa Fantástico, a respeito de um anexo de uma escola estadual rural, situada no municÃpio do Bujari, que está funcionando em um curral. Receio ter sido mal interpretado, por isso, seguem alguns esclarecimentos:
Disse no artigo que, apesar de triste realidade, esse não era o principal problema da Educação acreana, senão apenas um sintoma de algo mais grave. Acrescento que problemas de infraestrutura precária, sobretudo na zona rural da região Amazônica, não são novidade. E é verdade que eles também aconteciam nos governos que apoiei e de que fiz parte. Como secretário de Educação, me deparei diversas vezes com essa dura realidade, que buscávamos solucionar da melhor forma e da maneira mais célere possÃvel. Por isso, não posso reputar responsabilidade exclusiva ao atual secretário, Prof. Aberson Carvalho, pessoa correta e capaz, assim como também o são os seus antecessores imediatos, Profa. Socorro Neri e Prof. Mauro Sérgio, todos eles profissionais com currÃculos invejáveis e vasta folha de importantes serviços prestados à Educação de nosso Acre.
Como disse no artigo, e reafirmo agora, embora chocante a realidade descrita na reportagem, o problema da Educação acreana atualmente é bem mais grave. E não pode ser colocado, todo ele, “na conta” do secretário e de sua equipe que, por sinal, é formada, em sua maioria, por excelentes profissionais.
O problema é do projeto polÃtico como um todo que, liderado pelo governador Gladson Cameli, está muito mais preocupado em instrumentalizar a gestão para reunir os meios necessários para seguir vencendo eleições e se manter no poder do que em dar soluções para os problemas do nosso Estado. A situação do anexo escolar retratada na reportagem no mesmo dia em que o governador viajava de jatinho fretado para dar entrevistas em São Paulo é um sintoma dessa inversão de valores e prioridades. Celebrar o fato de entregar fardamento e material escolar de forma gratuita e fornecer uma refeição extra na merenda escolar (que são polÃticas importantes, reconheço) muito mais do que se importar com melhorias na aprendizagem (que não têm acontecido) é outro sinal. Some-se a tudo isso o desprezo pelos pilares das públicas públicas educacionais, que mencionei no artigo: medidas concretas de desenvolvimento profissional, modernização do currÃculo, implementação de instrumentos de avaliação, valorização da gestão e da governança escolar, atuação em regime de colaboração, de busca pela qualidade e equidade e de implantação de uma educação verdadeiramente integral têm passado ao largo da atual gestão, por falta de um direcionamento estratégico de quem é o lÃder maior desse processo: o governador Gladson Cameli.
Prestes a ser julgado pelo STJ, em razão de graves acusações de corrupção, reveladas pela Operação Ptolomeu, é o governador Gladson Cameli o grande responsável por esse estado de coisas que se observa não apenas na Educação, mas também na Saúde, na Segurança, na Assistência Social, nos Transportes, na Comunicação, na Infra-estrutura, dentre outras áreas de governo igualmente largadas ao Deus dará.
Ao atual e aos ex-secretários de Educação deste governo, vai minha solidariedade e empatia, que só não é maior que a empatia que tenho pelos alunos afetados por essa triste realidade. Infelizmente, os alunos não tem muito o que fazer, além de protestar e aguardar pela solução do caso. Já aos estimados Aberson e Socorro, digo que ainda dá tempo de se desvencilhar de um governo que será marcado como o mais corrupto e incompetente da história do Acre.
*Mestre (UFSC) e doutor (UnB) em Direito. Professor do Curso de Direito da Ufac. Ex-secretário de Educação do Acre.