Mobilização no Acre integrou atos em todo o país e cobrou o fim do feminicídio, justiça para as vítimas e políticas públicas efetivas de proteção às mulheres.
Mulheres de diferentes idades e trajetórias se reuniram na tarde deste domingo (7), no Lago do Amor, em Rio Branco, para denunciar o avanço da violência de gênero e reforçar o chamado nacional pelo fim do feminicídio no Brasil. O ato contou com intervenções artísticas, falas de protesto e manifestações simbólicas de luto e luta em lembrança das vítimas.

A mobilização, articulada por coletivos, movimentos sociais e organizações feministas, buscou romper o silêncio, cobrar justiça e sinalizar que a sociedade não tolera mais a impunidade. Cartazes, performances e leituras públicas deram o tom do encontro, unindo vozes em um pedido urgente: “basta de violência contra as mulheres”.

Concita Maia, do Instituto Mulheres da Amazônia (IMA), afirmou que os números não são apenas estatísticas, mas histórias interrompidas que exigem resposta imediata. “Estamos aqui para lembrar que cada uma dessas mulheres tinha sonhos, família, vida. O Acre e o Brasil não podem normalizar essa tragédia. Queremos políticas públicas efetivas, proteção e respeito às nossas mulheres”, disse.

Para Camila Cabeça, ativista feminista e coordenadora do Ministério da Cultura (Minc) no Acre, a presença nas ruas é uma resposta direta à negligência histórica no enfrentamento à violência contra as mulheres. “Estamos aqui para dizer um basta. Basta de assassinarem mulheres, basta de impunidade, basta de negligência do poder público. Não vamos mais aceitar que nossas vidas sejam tratadas como descartáveis. Vamos seguir na rua e onde for preciso para garantir que nenhuma mulher seja silenciada pela violência”, declarou.

A manifestação também evidenciou que o problema não se restringe às áreas urbanas. Xiu Shanenawa, da Organização das Mulheres Indígenas do Acre e Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia (Sitoakore), alertou que o feminicídio também atinge comunidades tradicionais. “O feminicídio atravessa fronteiras e chega às aldeias, às comunidades ribeirinhas e quilombolas. Muitas dessas violências sequer aparecem nas estatísticas. É preciso reconhecer que as mulheres indígenas também são vítimas e dizer um basta a essa violência que invade nossos territórios”, ressaltou.
O ato em Rio Branco integra a convocação do movimento Levante Mulheres Vivas, que organizou manifestações em pelo menos 20 estados e no Distrito Federal.
No estado, os números reforçam a gravidade da pauta. Segundo dados do Feminicidômetro do Ministério Público do Acre (MPAC), entre janeiro de 2018 e 1º de dezembro de 2025, foram registrados 90 feminicídios consumados e 158 tentativas. Para as organizadoras, esses dados mostram como a violência letal contra mulheres segue como um dos principais desafios enfrentados no Acre, onde a ausência de políticas públicas estruturantes impacta diretamente a proteção e a vida das acreanas.

Em nível nacional, o Brasil registrou mais de mil casos de feminicídio em 2025. Apenas no Distrito Federal, foram 26 mulheres mortas neste ano. O crime mais recente que ampliou a comoção do país ocorreu na sexta-feira (5), quando a cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos foi assassinada por um soldado dentro de um quartel.

A sequência de feminicídios em diferentes regiões, incluindo crimes ocorridos em Brasília, São Paulo e Santa Catarina, motivou a convocação dos atos deste domingo, que reuniram milhares de manifestantes.


