Estudo mostra que um terço dos moradores da região afirma ter sido diretamente afetado pelas alterações do clima; impactos incluem aumento do calor, poluição e alta nos preços dos alimentos.
As transformações do clima já fazem parte do cotidiano acreano, segundo a pesquisa Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal, divulgada na última quarta-feira (8). De acordo com o levantamento, um terço da população da Amazônia Legal, que inclui o Acre, já sentiu os efeitos do aquecimento global, e 32% afirma ter sido diretamente afetada pelas mudanças climáticas.
O dado ganha contornos ainda mais sensíveis quando se consideram os povos e comunidades tradicionais, como indígenas, ribeirinhos, seringueiros e quilombolas, onde o índice chega a 42,2%. O estudo, realizado entre maio e julho de 2025, ouviu 4.037 pessoas nos nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).
Os moradores relatam sentir os efeitos principalmente no bolso e na saúde. O aumento das temperaturas médias e o custo mais alto da energia elétrica foram mencionados por mais de 80% dos entrevistados na Amazônia Legal.
Além disso, 75% percebem piora na qualidade do ar, 74% relatam mais desastres ambientais e 73% notam elevação nos preços dos alimentos, fatores que, juntos, redesenham o modo de viver e produzir na floresta.
No Acre, o cenário tem rosto e cheiro. O da fumaça que cobre as cidades em períodos de seca prolongada e o da água escassa nos rios que sustentam comunidades inteiras. Cerca de um terço dos entrevistados relatou convivência com incêndios florestais e secas persistentes, agravadas por calor extremo e redução das chuvas.

“Essas porcentagens representam milhões de pessoas com dificuldades para acessar itens básicos, como água e alimentos”, alerta Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora adjunta da Vital Strategies.
O levantamento mostra ainda que os povos tradicionais são os mais vulneráveis, e também os mais conscientes. Eles relatam, com maior frequência, piora na qualidade da água (24,1%) e prejuízos na produção de alimentos (21,4%), índices superiores aos da população geral.
Apesar disso, são os que mais adotam práticas sustentáveis: 70% dizem separar o lixo para reciclagem, e 55% acreditam que suas ações individuais podem ajudar a conter a crise climática.
Para Pedro de Paula, diretor executivo da Vital Strategies Brasil, os dados reforçam que “a crise climática não é apenas uma questão ambiental, mas de saúde pública”. Ele destaca que a maioria dos moradores da Amazônia depende do Sistema Único de Saúde (SUS) e que as mudanças do clima afetam diretamente o bem-estar das populações mais pobres.
A pesquisa inaugura uma base de dados inédita sobre os impactos das mudanças climáticas na vida da população amazônida. Segundo Thais Junqueira, superintendente-geral da Umane, o objetivo é subsidiar políticas públicas que integrem saúde, clima e proteção social: “Enfrentar a crise climática na Amazônia é uma agenda de direitos e de sobrevivência”.
Os resultados completos do estudo estão disponíveis no Observatório da Saúde Pública da Umane.
Fonte: Pesquisa Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal (Umane e Vital Strategies, 2025).