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Marina Silva incomoda porque não se curva

O que vimos nesta terça-feira (27), durante a Comissão de Infraestrutura do Senado, não foi um debate político. Foi mais um capítulo vergonhoso da misoginia escancarada que ainda assombra o Congresso Nacional. Convidada para tratar de pautas ambientais, como a exploração de petróleo na Margem Equatorial e o licenciamento da BR-319, a ministra Marina Silva se tornou, mais uma vez, alvo de insultos disfarçados de discurso parlamentar. Um espetáculo deprimente e, tristemente, previsível.

Logo no início da audiência, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) proferiu uma distinção ofensiva: “Estou falando com a ministra e não com a mulher, porque a mulher merece respeito, a ministra, não.” Como se Marina Silva deixasse de ser mulher ao assumir uma função pública. Como se o cargo que ocupa legitimasse o desrespeito. É o velho truque do machismo institucional, que finge elogiar a mulher enquanto tenta rebaixá-la sob o pretexto de crítica política.

O ataque ganhou corpo com o senador Marcos Rogério (PL-RO), que disse que Marina precisava se “colocar no seu lugar”. Mas qual seria esse lugar? O da mulher que se cala? Da autoridade que abaixa a cabeça? Da ministra que assina, mas não opina? Não se tratava ali de divergência sobre política ambiental. Era um ataque direto à presença e à autonomia de uma mulher que ousa exercer poder com firmeza. Para esses senhores, o incômodo não está na técnica ou nas decisões. Está na postura altiva de quem não se curva.

A reação de Marina Silva foi à altura da sua história. Não se submeteu. Rebateu. E, diante de um ambiente hostil que não a reconhecia como interlocutora legítima, retirou-se da sessão. Foi um gesto político, um posicionamento de quem sabe que, em certos espaços, continuar presente é legitimar a violência.

Marina não chegou até aqui por acaso. Nascida em um seringal no Acre, analfabeta até os 16 anos, Marina Silva superou a pobreza, doenças causadas por contaminação de mercúrio e a perda de familiares para se tornar professora, sindicalista e, mais tarde, uma das vozes mais respeitadas no mundo na luta socioambiental. Foi perseguida, ameaçada de morte e viu companheiros assassinados, mas nunca deixou de falar. Sua presença incomoda porque rompe com os papéis que tantos ainda tentam impor às mulheres na política.

Ela não precisa provar mais nada. Já conquistou, com luta e competência, o direito de ocupar qualquer espaço. Aos que tentam humilhá-la, sobra apenas o constrangimento de enfrentar uma mulher que não se dobra. Seu exemplo seguirá abrindo caminho para muitas outras.

Enquanto o machismo for tratado como mero “excesso retórico”, e não como uma violência política que exclui mulheres do debate público, o Brasil continuará com um Congresso mais preocupado em “colocar ministras no seu lugar” do que em construir soluções reais para o país.

O lugar de Marina Silva, assim como o de toda mulher, é onde ela quiser estar. Inclusive no centro do debate ambiental, sem concessões ao atraso.

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