Mais um caso: denúncias de assédio sexual e moral expõem superintendente da RBTrans Clendes Vilas Boas

Superintendente é acusado de assédio sexual e moral por servidoras; vereador leva denúncias ao MP e ex-funcionária confirma perseguição.

Mais um caso de assédio contra integrantes do alto escalão da gestão do prefeito Tião Bocalom (PL) voltou a expor a Prefeitura de Rio Branco a denúncias graves de conduta abusiva. O presidente da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans), Clendes Vilas Boas, foi acusado de praticar assédio sexual e moral contra servidoras do órgão.

Nesta terça-feira (12), durante sessão na Câmara Municipal, o vereador Eber Machado (MDB) apresentou denúncias recebidas de pelo menos três mulheres que relataram condutas abusivas, como comentários inapropriados sobre aparência física, beijos forçados, investidas não consentidas e falas de cunho sexual praticadas por Clendes Vilas Boas.

“Nós recebemos uma denúncia onde fala do superintendente da RBTrans, seu Clendes Vilas Boas. Uma servidora relata assédio sexual e moral, e eu tenho amigos lá dentro que confirmam a pressão constante. Isso é muito grave. Vamos encaminhar tudo ao Ministério Público e à Corregedoria do município para que sejam tomadas as providências necessárias”, afirmou Eber Machado.

No documento entregue aos vereadores, uma das denunciantes afirma estar emocionalmente abalada e descreve o ambiente de trabalho como “hostil e traumático”, com humilhações públicas e um clima de medo e fofocas dentro do órgão.

Há ainda denúncias de assédio moral, envolvendo intimidações, retaliações e imposições, como obrigar servidores a interagir com redes sociais pessoais do gestor, manipular celulares de funcionários para simular mensagens e ameaçar exoneração de quem não comparecesse a eventos da prefeitura.

Novos relatos e clima de medo

O Na Proa da Notícia conversou com servidoras da RBTrans que confirmam as denúncias e detalham o ambiente de trabalho hostil, mas pediram para não serem identificadas por medo de represálias.

Uma das servidoras ouvidas pela reportagem, descreveu um clima de favorecimento político, humilhações públicas e desrespeito a direitos trabalhistas.

“O gestor favorece determinadas pessoas por questões políticas, enquanto ignora direitos garantidos por lei, como a aceitação de atestados médicos e intervalos para lanche e almoço. Além disso, são frequentes comentários constrangedores feitos de forma pública, expondo e humilhando trabalhadores diante de todos.”

Outra servidora conta que reuniões e orações, que deveriam ser facultativas, são utilizadas como instrumento de coerção. Trabalhadores terceirizados e Cargos Comissionados seriam obrigados a participar sob risco de represálias indiretas.

“Quem não participa é intimidado por meio de colegas ligados à gestão. O resultado é um clima de medo generalizado, que impede muitos de se manifestarem”.

O clima de pressão teria levado a prejuízos na saúde mental de servidores. “No meu caso, precisei retomar o uso de medicação controlada e voltar à terapia para lidar com a ansiedade e o estresse. Há casos em que servidores têm medo até de ir ao banheiro, pois ele fiscaliza até isso”, afirmou.

Ainda de acordo com as denunciantes, o superintendente age de forma sistemática para “levar os trabalhadores a pedirem para sair”, isolando, reduzindo salários e humilhando profissionais.

“Ele retira apoios, reduz salários, isola e abandona profissionais em suas funções, criando um cenário de humilhação e desamparo no ambiente de trabalho. Reforço que este relato é feito de forma anônima por temor de represálias, mas com o objetivo de que medidas sejam tomadas para garantir o respeito aos direitos dos trabalhadores e restabelecer um ambiente laboral saudável, livre de assédio e intimidações”, finaliza.

Ex-servidora da RBTrans, Marília Tavares, já havia denunciado o superintendente por assédio e perseguição. Foto: Reprodução/Instagram

Ex-servidora reforça denúncias

Após a denúncia de Eber na Câmara, uma ex-servidora da RBTrans, Marília Tavares, divulgou vídeo em rede social relatando ter sofrido suposto assédio moral do superintendente. Ela disse ter enfrentado perseguição, redução de salário, retirada de equipamentos de trabalho e atribuição de tarefas inúteis, com o objetivo de forçá-la a pedir demissão.

“Eu fui vítima do senhor Clendes Vilas Boas dentro da RBTrans, sofri assédio moral, perseguição e humilhação. Ele me perseguiu, tentou me demitir várias vezes, mas sempre havia alguém que me defendia e não deixava. Como não conseguiu me mandar embora, diminuiu meu salário, tirou minha mesa e meu computador, me encheu de tarefas inúteis para me fazer desistir. Foi quando pedi minha demissão. Foi um dos dias mais felizes da minha vida”, relatou.

Segundo Marília, ela possui provas das acusações, como prints e mensagens, e afirma que outros servidores também sofreram assédio moral, mas não se manifestam por medo de perder o emprego.

“Tenho também mensagens e relatos de outros funcionários, vários, que confirmam tudo que estou falando. Só que essas pessoas não podem aparecer, porque se falarem, vão ser demitidas. E não foi só comigo. Muita gente lá dentro sofre o mesmo assédio moral, mas tem que se calar, porque o medo de perder o emprego é maior”, afirma.

A ex-servidora contou que o assédio lhe causou problemas psicológicos, como crises de ansiedade e depressão.

“Eu vivia todos os dias com medo de mais humilhação. Ia trabalhar chorando, sem saber se teria meu emprego no dia seguinte. Hoje não tenho mais vínculo com a prefeitura e posso falar sem medo”, disse.

Vereadores durante encontro com a ex-sevidora da RBTrans Marília Tavares. Foto: Proa

Na manhã desta quarta-feira (13), Marília esteve na Câmara de Vereadores, onde foi recebida por Eber Machado, André Kamai, Elzinha Mendonça e Nénem Almeida, e confirmou pessoalmente as denúncias.

“Há um ano eu fiz um vídeo denunciando, mas não repercutiu. Agora, com o vereador Eber Machado dando destaque ao caso, fiz outro vídeo para reforçar as denúncias e cobrar providências”, lembrou.

O vereador André Kamai (PT) declarou que também encaminhará o caso ao Ministério Público do Acre (MP-AC), reforçando a necessidade de investigação.

“Vou pedir investigação conjunta com o vereador Eber. Infelizmente, a Prefeitura de Rio Branco tem histórico de problemas desse tipo. Espero que, caso as denúncias sejam verdadeiras, o prefeito tome providências firmes. Não podemos aceitar esse tipo de situação, especialmente num estado com altos índices de violência contra a mulher”, disse Kamai.

Defesa do superintendente

Em nota, Clendes Vilas Boas repudiou as acusações, chamando-as de “levianas, irresponsáveis e desprovidas de qualquer prova”. Ele afirmou estar “pronto para responder a qualquer questionamento das autoridades” e que tomará medidas judiciais contra os responsáveis. (leia nota completa abaixo).

“Não temo a verdade. Estou pronto para responder a qualquer questionamento das autoridades competentes, pois tenho em meu favor não apenas a justiça dos homens, mas sobretudo a Justiça de Deus. Tornar pública uma denúncia anônima, sem qualquer lastro probatório, é tentativa clara e frustrada de assassinato de reputação, ato que atenta contra a honra e a dignidade não só do acusado, mas também da instituição que represento”, afirmou o superintendente.

Outros escândalos na prefeitura

Essa não é a primeira vez que servidores nomeados pelo prefeito Tião Bocalom enfrentam denúncias de assédio. O caso de Clendes Vilas Boas se soma a outras denúncias de práticas abusivas por integrantes do alto escalão da prefeitura de Rio Branco contra funcionários.

Paulo Machado (2025)

O secretário adjunto de Educação, Paulo Machado, foi acusado de perseguição e remoção injustificada de servidores. Mesmo após defesa pública do prefeito Tião Bocalom, alegando tratar-se de ação de opositores, ele foi exonerado em fevereiro deste ano.

Helder Paiva (2024)

A prefeitura exonerou, em setembro de 2024, o assessor especial de Articulação Institucional, Helder Paiva, por suspeita de assédio sexual contra uma servidora da Câmara de Vereadores. O caso teria ocorrido em junho de 2023, quando Helder teria abraçado a vítima por trás e sussurrado palavras de baixo calão em seu ouvido, dentro da sede da Câmara. A servidora pediu afastamento e iniciou tratamento psicológico. Helder, que também é pastor e ex-deputado estadual, foi nomeado para o cargo em 2021.

Francisco Laerte Soares (2023)

Em 2023, o gerente do Departamento de Apoio à Produção da Secretaria Municipal de Agropecuária (Seagro), Francisco Laerte Soares, foi denunciado pelo MP-AC por importunação sexual. A exoneração ocorreu em julho, após pedido de afastamento feito na Câmara pela vereadora Elzinha Mendonça (PSB).

Frank Lima (2021)

Já em 2021, Frank Lima, então secretário municipal de Saúde, foi denunciado por assédio sexual contra servidoras da pasta. O MP-AC recomendou seu afastamento em agosto, e ele foi exonerado em dezembro. Em maio de 2023, foi condenado a um ano e dois meses de prisão, em regime aberto, por assédio sexual contra uma servidora.

Em abril de 2025, a prefeitura instituiu a Política de Prevenção e Combate a Todas as Formas de Assédio e Discriminação no Serviço Público Municipal, com criação de canais de denúncia e comissão de acolhimento.

Veja a nota do superintendente na íntegra:

Em relação à suposta denúncia anônima apresentada pelo vereador Eber Machado e demais parlamentares na Câmara Municipal, venho, de forma pública e transparente, manifestar meu mais absoluto repúdio e desagravo a tais acusações levianas, irresponsáveis e desprovidas de qualquer prova ou fundamento.

Não temo a verdade. Estou pronto para responder a qualquer questionamento das autoridades competentes, pois tenho em meu favor não apenas a justiça dos homens, mas sobretudo a Justiça de Deus. Tornar pública uma denúncia anônima, sem qualquer lastro probatório, é tentativa clara e frustrada de assassinato de reputação, ato que atenta contra a honra e a dignidade não só do acusado, mas também da instituição que represento.

Exijo que a suposta vítima apresente as provas das alegações. Não fugirei da verdade e enfrentarei de pé, com firmeza, usando a couraça da justiça e o escudo da fé. Não aceitarei ataques irresponsáveis, perversos e premeditados dessa natureza. Irei até as últimas consequências para provar minha inocência, tanto perante Deus quanto perante a Justiça.

Minha trajetória é conhecida por todos: vida de humildade, honestidade e respeito às famílias, às autoridades constituídas e às comunidades. Jamais fui, nem seria, capaz de cometer qualquer ato que atentasse contra a dignidade de quem quer que seja. É grave e inadmissível brincar com o nome de uma pessoa proba, ficha limpa, honesta e dedicada ao bem-estar coletivo.

Pergunto: qual o motivo desta perseguição? Não sou candidato, não represento ameaça a ninguém. Por que, então, esse ataque covarde?

Coloco-me à disposição da imprensa e das autoridades para todos os esclarecimentos, aguardando de pé e de cabeça erguida qualquer intimação, seja de onde vier. Quanto ao encaminhamento da denúncia anônima ao Ministério Público, recebo com tranquilidade, pois lá terei garantido o direito constitucional à ampla defesa e ao contraditório e ninguém pode ser condenado em tribunal de exceção.

Tomarei todas as medidas cabíveis, inclusive processando judicialmente aqueles que estão difundindo essa falsa denúncia, com o claro intuito de destruir minha honra e imagem pública.

Tenho 55 anos, nunca fui preso, nunca fui condenado, nunca me envolvi com corrupção e nunca assediei ninguém. Sou ficha limpa. Sei que incomodo aqueles que, movidos pela inveja ou pelo desespero, não suportam ver meu trabalho à frente da RBTRANS, honrando a missão confiada pelo prefeito Tião Bocalom e servindo com zelo às comunidades.

Quem quiser que morda o próprio rancor eu sigo de pé, firme, com a consciência limpa e a verdade ao meu lado.

Clendes Vilas Boas
Superintendente da RBTRANS

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