Mostra com fotografias de Sebastião Salgado destaca o papel dos povos indígenas na proteção da floresta; programação inclui debate sobre justiça climática e COP30.
O líder indígena acreano Francisco Piyãko, do povo Ashaninka do Rio Amônia, participa entre os dias 27 de outubro e 1º de novembro de 2025 da programação de abertura da exposição Amazônia, em Colônia, na Alemanha. A mostra, sediada no Rautenstrauch-Joest-Museum, reúne cerca de 200 fotografias em preto e branco de Sebastião Salgado, resultado de mais de sete anos de expedições pela floresta amazônica.
A presença de Piyãko integra uma série de atividades públicas de divulgação da mostra, com entrevistas à imprensa, debates e encontros com o público europeu sobre a proteção dos territórios indígenas e a justiça climática.
No dia 30 de outubro, ele participa de uma conversa pública com o líder indígena Beto Marubo, do Vale do Javari, mediada pela diretora do museu, Nanette Snoep, e pelo prefeito de Colônia, Andreas Wolter. O diálogo abordará o papel dos povos indígenas na preservação da floresta e as expectativas para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA) no próximo mês.

A participação de Piyãko na abertura da exposição carrega também um sentido de homenagem ao fotógrafo Sebastião Salgado, falecido em maio deste ano. O convite, segundo ele, partiu do próprio artista, e a viagem simboliza a continuidade de uma parceria construída há quase uma década.
“Creio que estou indo muito mais pelo convite do próprio Sebastião. Mesmo ele tendo feito a passagem dele, é como se eu estivesse indo visitar ele, encontrar com ele. Vai ser um momento bastante emocionante, porque vai ter muito forte a presença dele, mesmo ele não estando ali. Vou movido por esse sentimento”, afirmou o líder Ashaninka.
A relação entre Piyãko e Salgado teve início em 2016, quando o fotógrafo visitou a Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, no município de Marechal Thaumaturgo, interior do Acre, para registrar o modo de vida do povo Ashaninka. As imagens dessa convivência integram a série Amazônia, retratando o cotidiano da comunidade Apiwtxa, fundada por Piyãko e outras lideranças locais.
Durante a estadia, Salgado acompanhou o trabalho comunitário, os rituais e as práticas de manejo sustentável que sustentam a vida na fronteira entre o Brasil e o Peru. As fotografias tornaram-se referência na documentação das formas de resistência dos povos da floresta diante do avanço das fronteiras econômicas na Amazônia.
Em diversas entrevistas, o fotógrafo ressaltou que a experiência entre os Ashaninka foi essencial para compreender a dimensão espiritual e material que une os povos indígenas à floresta. Já Piyãko costuma afirmar que o olhar de Salgado ajudou a tornar visível a experiência dos Ashaninka para o mundo e reforçar a importância da Amazônia como parte da identidade e da sobrevivência coletiva.
Com curadoria de Lélia Wanick Salgado, a exposição é uma realização do Rautenstrauch-Joest-Museum, em parceria com o Instituto Terra, fundado por Lélia e Sebastião Salgado. O evento tem patrocínio da Zurich Seguros, que celebra 150 anos na Alemanha, e apoio da KfW Entwicklungsbank, da DEG e da editora Taschen.
As cerca de 200 fotografias apresentadas revelam paisagens, comunidades e rituais de diversos povos indígenas da Amazônia — entre eles, Ashaninka, Yawanawá, Marubo, Yanomami, Suruwahá e Macuxi. As imagens capturam não apenas a grandiosidade da floresta, mas também a intimidade das relações humanas que a sustentam.
O futuro é indígena
Em cartaz até 15 de março de 2026, Amazônia integra ainda a programação paralela The Future is Indigenous, que reúne artistas, lideranças e pensadores indígenas em debates e performances sobre clima, cultura e território. O objetivo é promover o diálogo entre diferentes visões sobre o futuro da floresta e reafirmar o protagonismo dos povos originários na luta pela preservação ambiental.
Para Francisco Piyãko, o momento representa não apenas um tributo a Sebastião Salgado, mas também uma oportunidade de ampliar as vozes da Amazônia no cenário internacional.
“Levar nossa palavra para fora é também proteger nosso território. A floresta que mostramos nas fotos é viva — e é nossa responsabilidade mantê-la assim”, disse.


