Ofício foi reconhecido nesta terça-feira em decisão que valoriza trabalho e saberes das mulheres amazônicas. Tacacá é um prato típico da Amazônia, preparado com um tucupi.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu, nesta terça-feira (25), o Ofício das Tacacazeiras da Região Norte como Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão inscreve o saber-fazer no Livro dos Saberes, destacando a relevância das mulheres amazônicas na manutenção de conhecimentos ancestrais ligados à culinária regional.
O título preserva um ofício que vai muito além da manipulação dos ingredientes. Prato típico da Amazônia, o tacacá é preparado com tucupi e goma (derivados da mandioca), camarão seco, jambu e temperos, fruto da integração de práticas agrícolas, saberes tradicionais e técnicas culinárias. Nos últimos anos, ganhou projeção nacional, chegando a ser a comida mais pesquisada no Google em 2023.
Para o Iphan, o reconhecimento formaliza a importância social e histórica desse trabalho tradicional. “O ofício de tacacazeira não se restringe a uma receita, mas compreende um conjunto integrado de práticas agrícolas, saberes tradicionais, técnicas culinárias, modos de comercialização, formas de sociabilidade e sentidos simbólicos”, informou o instituto.
A aprovação ocorreu durante a 111ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que contou com a presença de profissionais da região, entre elas Ivanete Pantoja, presidente da Associação das Tacacazeiras de Belém (PA). “Mantenho o legado da minha mãe, com modernidade. Todas as tacacazeiras estão em festa”, celebrou.
A trajetória para tornar o ofício um patrimônio cultural começou há mais de uma década. Em 2010, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) apresentou o pedido de registro, motivado por estudos sobre tradições ligadas à mandioca no Pará. Antes disso, em 2006, o saber das tacacazeiras já havia sido reconhecido no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC).
O processo voltou a avançar em 2024, com a produção de um dossiê técnico elaborado em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O documento sistematizou a importância histórica, cultural e social do ofício, fortalecendo sua candidatura ao status de patrimônio cultural.
Em outubro deste ano, o Iphan abriu também uma consulta pública para ouvir a sociedade sobre o registro, etapa que consolidou o apoio ao reconhecimento.
Com a inscrição no Livro dos Saberes, o Iphan deverá elaborar, junto às comunidades envolvidas, um Plano de Salvaguarda para garantir a continuidade e valorização do trabalho das tacacazeiras. O plano deve incluir ações voltadas à gestão e empreendedorismo, acesso a matérias-primas, melhoria das condições de comercialização, divulgação cultural e gastronômica e infraestrutura adequada nos pontos de venda.


