Vereador denuncia “manobra” da Prefeitura e motoristas anunciam greve no transporte coletivo de Rio Branco

André Kamai critica aumento de subsídio à Ricco Transportes e aponta falta de transparência; trabalhadores param atividades nesta quarta-feira (10)

Em meio a denúncias de irregularidades e reclamações de usuários, o transporte coletivo de Rio Branco vive novo impasse. Na sessão da Câmara Municipal desta terça-feira (9), o vereador André Kamai (PT) voltou a denunciar o que chamou de “colapso” do sistema e criticou o projeto de lei enviado pela Prefeitura que prevê a ampliação do subsídio pago à empresa Ricco Transportes.

Para o parlamentar, a proposta representa uma “manobra cínica” para camuflar um novo aumento da tarifa, sem transparência nem respaldo técnico. “Estamos falando de uma empresa que já faturou mais de R$ 200 milhões desde que chegou em Rio Branco, sendo mais de R$ 100 milhões apenas de subsídio bancado pelo povo. E o que temos em troca? Ônibus sucateados, linhas cortadas, catracas travadas, plataformas quebradas e trabalhadores em condições precárias”, denunciou Kamai.

Ainda segundo o vereador, a empresa deve cerca de R$ 4 milhões a uma companhia de Goiânia, proprietária de parte da frota usada em Rio Branco, e pode perder veículos caso a dívida não seja quitada. “É um calote em quem alugou os ônibus e um calote na população, que paga caro por um serviço vergonhoso”, disse.

Kamai também voltou a criticar o empréstimo de R$ 67 milhões aprovado pela Câmara, a pedido do prefeito Tião Bocalom (PL), para a compra de novos ônibus. O parlamentar considera a medida mais uma “benesse” à Ricco.

“Na prática, nós contraímos uma dívida que perdura por 20 anos para colocar ônibus novos nas mãos de uma concessionária irregular, que já recebeu mais de R$ 100 milhões em subsídios e continua oferecendo um serviço de péssima qualidade”, apontou.

Ele classificou o empréstimo como um risco financeiro e político para a cidade, lembrando que outros financiamentos já foram aprovados sem resultados concretos.

Falta de transparência

Na tribuna, o vereador denunciou ainda que o portal de transparência do transporte público não é atualizado desde 2020. “Não existe estudo tarifário, não existem planilhas, não existe controle público. A Prefeitura quer enfiar esse aumento goela abaixo da cidade, escondendo informações e tratando a população como idiota”, declarou.

Kamai também reforçou que o contrato da Ricco foi firmado de forma emergencial e se arrasta há quatro anos sem licitação. Ao final da sessão, apresentou requerimento exigindo da Prefeitura os estudos de impacto e as planilhas de custos que justificam o aumento do subsídio.

Greve dos motoristas começa nesta quarta-feira (10)

A denúncia de Kamai ocorreu no mesmo dia em que os motoristas da Ricco anunciaram greve por tempo indeterminado. O representante da categoria, Antônio Neto, informou que os trabalhadores aguardam desde maio um reajuste salarial, mas não houve acordo entre a empresa e a Prefeitura.

“Desde maio, a empresa alega que não tem condições de dar o reajuste sem o aumento do subsídio do município. O trabalhador não pode ficar sem reajuste. As despesas aumentaram, a inflação subiu, e a gente precisa garantir condições dignas de trabalho”, afirmou Neto.

A paralisação deve afetar toda a frota, que conta com cerca de 400 a 420 funcionários. Pela legislação, 30% dos ônibus devem continuar circulando, mas o impacto sobre a mobilidade urbana será significativo.

O impasse do subsídio

O impasse gira em torno do reajuste do subsídio pago pela Prefeitura de Rio Branco à Ricco Transportes. O projeto de lei em discussão na Câmara propõe aumentar em R$ 0,50 o valor repassado por passageiro, elevando de R$ 2,63 para R$ 3,13.

A medida, segundo o Executivo, é necessária para compensar os custos operacionais, pressionados pela alta do diesel e pela queda no número de usuários. Apesar disso, a tarifa ao público permaneceria em R$ 4,00. A gestão também afirma que o reajuste é temporário, até que um novo processo licitatório defina as empresas que assumirão o transporte público.

A Ricco alega que, sem o aumento, não tem condições de arcar com o reajuste salarial dos motoristas nem de manter a operação em funcionamento. Já os trabalhadores reclamam de defasagem salarial desde maio e denunciam más condições de trabalho, o que motivou a paralisação.

Além do reajuste salarial, os motoristas cobram pendências relacionadas ao FGTS, que, segundo a empresa, serão regularizadas com apoio da Caixa Econômica Federal. Apesar disso, a greve terá como foco o aumento salarial imediato. “Nosso ponto de mobilização será sempre o terminal urbano. Estamos abertos ao diálogo, mas a greve será mantida até que uma solução seja apresentada”, destacou Neto.

banner-ela-pode-tjac