Setor produtivo brasileiro vê alívio parcial, enquanto governo cobra correção de distorções.
A decisão dos Estados Unidos de cortar tarifas de importação para cerca de 200 produtos alimentícios foi classificada como positiva pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
O anúncio, feito na noite de sexta-feira pelos norte-americanos, marcou a retirada da tarifa global conhecida como taxa de reciprocidade, fixada desde abril em 10% para países latino-americanos. No entanto, a sobretaxa adicional de 40% imposta exclusivamente ao Brasil continua valendo e mantém um obstáculo considerado expressivo para as exportações nacionais.
Alckmin afirmou no Palácio do Planalto que o ajuste tarifário segue numa direção favorável, mas ressaltou que a estrutura ainda penaliza o país. “Há uma distorção que precisa ser corrigida. Todo mundo teve 10 pontos percentuais a menos. No caso do Brasil, que tinha 50%, ficou com 40%, que é muito alto. Você teve um setor muito atendido que foi o suco de laranja. Era 10% e zerou. Isso é US$ 1,2 bilhão a mais nas exportações. Então zerou, ficou sem nenhum imposto”, disse o vice-presidente.
Alguns concorrentes conseguiram reduções maiores, o que acendeu um alerta sobre a competitividade brasileira. “O café também reduziu 10 pontos percentuais, mas tem concorrente que reduziu 20 pontos percentuais. Então esse é o empenho que tem que ser feito agora para melhorar a competitividade”, afirmou.
O governo brasileiro atribui parte das mudanças às negociações recentes mantidas com Washington. Segundo Alckmin, pesaram as conversas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Donald Trump, em outubro, além de encontros entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. “A última ordem executiva do presidente Trump foi positiva e na direção correta. Vamos continuar trabalhando”, avaliou.
Mesmo com as reduções, os Estados Unidos seguem com superávit na balança comercial bilateral. “O Brasil não é problema, é solução”, disse Alckmin ao comentar o cenário.
Com o fim da tarifa global, a fatia das exportações brasileiras para os EUA isentas de sobretaxas subiu de 23% para 26%, cerca de US$ 10 bilhões. O efeito chega após o período marcado pelo tarifaço, que provocou um salto de 341% no déficit brasileiro entre agosto e outubro.
Os impactos variam conforme o setor. O suco de laranja, especialmente competitivo no mercado norte-americano, obteve o maior benefício: a tarifa de 10% foi zerada. Um alívio que representa um potencial adicional de US$ 1,2 bilhão nas vendas externas. O café, por sua vez, teve a alíquota reduzida de 50% para 40%, mas enfrenta retração nas exportações e maior concorrência internacional. Em outubro, as vendas brasileiras caíram 54% na comparação anual.
Carne bovina, frutas e castanhas também passaram de 50% para 40%, mas o corte foi considerado limitado diante da manutenção da sobretaxa exclusiva ao Brasil.
O governo norte-americano afirmou que as reduções fazem parte de um esforço para conter a inflação de alimentos e equilibrar a oferta interna. Trump classificou o ajuste como “um pequeno recuo” e afirmou não ver necessidade de novas reduções no curto prazo. Ele disse ainda esperar queda nos preços de itens como o café.
Madeira, celulose e outros produtos já haviam registrado avanços
Outras negociações tiveram resultados recentes. Em setembro, os EUA retiraram a tarifa global de 10% e a sobretaxa de 40% sobre ferro-níquel e celulose. Já no início de outubro, a alíquota de madeira macia e serrada foi reduzida de 50% para 40%, enquanto armários, móveis e sofás passaram de 50% para 25%.
Essas reduções foram aplicadas com base na Seção 232 da Lei de Comércio norte-americana, que avalia impactos sobre a segurança comercial do país. No caso dos setores de madeira e móveis, as mudanças valeram para todo o mercado internacional, sem alterar a competição entre os principais exportadores.
O governo brasileiro pretende manter a pressão diplomática para derrubar a sobretaxa exclusiva ao país, vista como o principal entrave para que os avanços recentes se traduzam em ganhos efetivos de competitividade.


