Ato que ocupou as ruas de Rio Branco e de diversos municípios do estado celebrou o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
A Marcha das Mulheres Negras do Acre ocupou as ruas de Rio Branco e de diversos municípios do estado nesta terça-feira (25) em uma mobilização que reforçou reivindicações por reparação histórica, proteção à vida e enfrentamento às violências que atingem de forma desproporcional as mulheres negras.
Com o tema “Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver e contra as violências do Estado”, o ato integra a agenda nacional da Marcha das Mulheres Negras, reconhecida como a maior mobilização do país protagonizada por mulheres negras. Em Rio Branco, a concentração ocorreu às 8h em frente ao Palácio Rio Branco, de onde as participantes seguiram em caminhada pelo Centro da capital até a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac).

A marcha reuniu coletivos, movimentos sociais, lideranças comunitárias, apoiadores e entidades do movimento negro. A programação incluiu fala das entidades organizadoras, leitura das reivindicações, incidência política em órgãos públicos e caminhada com cartazes, tambores e palavras de ordem. Em Rio Branco, a concentração ocorreu às 8h em frente ao Palácio Rio Branco, de onde as participantes seguiram em caminhada pelo Centro da capital.
As participantes destacaram, entre os objetivos centrais da mobilização, a defesa da vida das mulheres negras, o combate ao racismo, à violência e ao feminicídio, e a exigência de políticas públicas efetivas, especialmente aquelas relacionadas à implementação das leis de proteção já existentes. As organizações também reafirmaram a necessidade de ampliar a rede de proteção e cuidado, reforçando que o feminicídio é evitável e que a violência não pode ser normalizada.
“Estamos em marcha. Estamos em luta”
Entre as reivindicações urgentes estão delegacias especializadas funcionando 24 horas, ampliação da Patrulha Maria da Penha, salas de atendimento humanizado e equipes preparadas para atender mulheres com deficiência. As pautas de saúde incluem atendimento ginecológico em todos os municípios, acesso a psicoterapia e implementação integral da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

A coordenadora da Associação das Mulheres Negras do Acre, Almerinda Cunha, reafirmou a urgência das demandas apresentadas. “Hoje é o dia internacional pela eliminação das violências contra as mulheres. E no Brasil e no mundo, as maiores vítimas de violência são as mulheres negras. Por isso, hoje, nós estamos marchando por reparação, por bem viver, por respeito e pelas nossas vidas”, afirmou.
Ela também denunciou problemas estruturais que afetam o atendimento às mulheres no estado. “A saúde mental tá um caos. Tá tudo abandonado. E nós vamos lutar por isso. Estamos em marcha. Estamos em luta. Estar aqui hoje é um ato de revolução”, declarou.
O movimento também exige o cumprimento das leis que tratam do ensino da história afro-brasileira, africana e indígena, políticas de fortalecimento da renda e da moradia, cotas para mulheres negras chefes de família no Minha Casa, Minha Vida e inclusão em programas de segurança alimentar.

A estudante da Universidade Federal do Acre (Ufac) e diretora de Igualdade Racial do DCE, Eduarda Ferreira, conhecida como Afrodite, afirmou que o debate público tem sido silenciado. “De uns tempos pra cá, a luta das mulheres negras, das pessoas LGBTs e antirracista tem sido tratada como mimimi. As mídias não querem mais falar sobre isso”, disse.
Para ela, ocupar as ruas é uma forma de resistência. “A gente tentar fazer com que a população enxergue a nossa luta, que é real, que existe, é extremamente importante.”
Durante a mobilização, foi apresentado um documento reivindicatório com um conjunto amplo de demandas destinadas ao governo do estado, prefeituras e órgãos públicos. Entre os pontos centrais está a implementação do Marco Regulatório de Raça, Gênero e Direitos Humanos, a divulgação dos direitos das mulheres e a criação de espaços permanentes de orientação sobre a Lei Maria da Penha, além de campanhas estaduais e municipais de combate às violências, ao racismo e ao capacitismo.
O documento cobra ainda a execução da Lei nº 4.328/2024, que estabelece a qualificação de gestores públicos por meio do letramento em igualdade racial, gênero e diversidade. As mulheres afirmam que a efetividade dessa legislação é necessária para enfrentar desigualdades estruturais e corrigir falhas históricas do Estado na proteção à população negra.

Nos municípios do interior, coletivos de mulheres negras realizaram atos simultâneos que também denunciaram as violências persistentes e reivindicaram a implementação de políticas de proteção. Segundo os grupos organizadores, a expansão da marcha para diferentes cidades demonstra a capilaridade do movimento e a urgência das pautas levantadas.
Marcha das Mulheres Negras
A Marcha das Mulheres Negras é um movimento nacional construído por mulheres negras de diferentes gerações, territórios e contextos sociais, com articulação em todos os estados e caráter internacional.
A mobilização desta terça-feira (25) ocorre simultaneamente em diversas regiões do país e também reúne mulheres em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, onde a expectativa do movimento era reunir 300 mil pessoas.
O movimento surgiu para enfrentar o racismo, o sexismo e as múltiplas formas de violência que atingem de maneira desproporcional as mulheres negras, defendendo reparação histórica, valorização das ancestralidades afro-brasileiras e políticas públicas que garantam dignidade, direitos e bem viver.
No Acre, o movimento se organiza por meio de coletivos e entidades que atuam na defesa da vida das mulheres negras e cobram a efetivação de legislações e marcos regulatórios já existentes.


