Documentário mostra a luta indígena pela proteção dos direitos e da floresta no Vale do Juruá

“Opirj – A luta na defesa dos direitos e da floresta” reúne relatos, decisões judiciais e análises socioambientais sobre os impactos de estradas na Amazônia.

O documentário “Opirj – A luta na defesa dos direitos e da floresta” estreou nesta segunda-feira (22) e já está disponível no canal do Épop no YouTube. A produção apresenta uma narrativa detalhada sobre a mobilização e a resistência dos povos indígenas no Vale do Juruá, na fronteira entre o Acre (Brasil) e Ucayali (Peru), reunindo relatos inéditos, decisões judiciais e documentos técnicos sobre a atuação da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ) e os conflitos em torno de projetos viários na região, incluindo a proposta de rodovia entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa (Peru).

“O direito dos povos indígenas está reconhecido na Constituição Brasileira e as comunidades não podem pagar o preço de o Estado não agir e defender os povos”, afirma o coordenador da OPIRJ, Francisco Piyãko.

Liderança indígena Francisco Piyãko destaca a importância da união na defesa dos territórios tradicionais na fronteira Acre–Ucayali. Foto: Reprodução

O filme resgata o histórico de mobilização das comunidades indígenas e destaca a decisão da Justiça Federal no Acre, que, em 14 de junho de 2023, declarou a nulidade do Edital 130/2021 do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e suspendeu o licenciamento do trecho da rodovia até a realização de estudos e consulta prévia a povos indígenas e comunidades tradicionais.

Estudos apresentados no documentário, entre eles o da Conservation Strategy Fund (CSF), calculam prejuízo social estimado em R$ 960 milhões caso a estrada seja construída, considerando impactos ambientais, sociais e econômicos.

A narrativa também expõe o cenário transfronteiriço. Em março de 2024, a Comissão Transfronteiriça Yuruá/Alto Tamaya/Alto Juruá divulgou carta aberta sobre a reabertura ilegal do ramal UC-105 (Nueva Italia–Puerto Breu), denunciando riscos a territórios indígenas e a proximidade com a Reserva Murunahua, habitada por povos em isolamento voluntário.

O documento cita ainda pistas clandestinas e plantios ilícitos de coca na região, evidenciando a sobreposição entre pressões econômicas, narcotráfico e degradação ambiental.

Atuação do Ministério Público e organizações

O documentário mostra como, em 2021, a Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa) encaminhou ao Ministério Público Federal um dossiê sobre os impactos do ramal UC-105, solicitando providências. Lideranças dos povos Ashaninka, Nawa e Nukini participaram das filmagens, reforçando os riscos que estradas, legais ou clandestinas, trazem para seus territórios.

Um diagnóstico de 2022 citado na produção aponta que a abertura de vias tem provocado ocupação irregular, aumento do narcotráfico e efeitos sociais severos, sobretudo para jovens das comunidades indígenas.

Francisco Piyãko resume a posição das lideranças. “Isso é para nós, para hoje e para as gerações futuras, é para a vida… A união é o caminho para defender nossos territórios”.

Produção e financiamento

O documentário teve participação de uma rede de organizações nacionais e internacionais. A análise custo-benefício da estrada Pucallpa–Cruzeiro do Sul foi desenvolvida pela CSF-Brasil e CSF-Peru, com apoio da Fundação Nia Tero, além de colaboração da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre), SOS Amazônia, Derecho, Ambiente y Recursos Naturales (DAR), Organización Regional AIDESEP Ucayali (ORAU) e do Ministério Público Federal.

O enfrentamento à estrada ilegal UC-105 contou com a Apiwtxa, OPIRJ, ORAU, ProPurús e Upper Amazon Conservancy (UAC).

A obra foi financiada pela Lei Paulo Gustavo – Acre (Edital de Audiovisual nº 006/2023) e conta com apoio da Fundação Elias Mansour, do Governo do Acre e do Governo Federal. O proponente é o jornalista Arison Jardim.

Onde assistir

O documentário completo já está disponível no canal do Épop no YouTube: https://youtu.be/4ritMemNXL0.

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