Funcionários alertam para esvaziamento progressivo do ambulatório e risco de desassistência à população idosa.
O que era para ser um espaço de acolhimento e cuidado especializado à população idosa está, segundo denúncias de funcionários e ex-servidores, se transformando em um cenário de esvaziamento progressivo e silencioso. Profissionais do Hospital do Idoso, unidade de referência em atendimento gerontológico no Acre, enviaram uma nota ao Proa denunciando o desmonte do ambulatório da instituição, processo que, segundo eles, vem ocorrendo sem diálogo com trabalhadores, pacientes ou sociedade civil.
Segundo o documento, a atual gestão estaria promovendo mudanças que colocam em risco o funcionamento do ambulatório especializado e o direito ao cuidado integral da população idosa. “A atual gestão tem promovido, de forma silenciosa e progressiva, o desmonte do Ambulatório do Idoso, retirando profissionais qualificados que atuam há anos no cuidado integral à pessoa idosa”, diz a nota.
Entre as mudanças já em curso, estão a retirada de especialidades essenciais como nutrição e fonoaudiologia, além da redução expressiva nas áreas de geriatria, psicologia e terapia ocupacional. A denúncia chama atenção para o fato de que “essa substituição arbitrária da equipe experiente indica a intenção de encerrar o serviço, priorizando estruturas genéricas em detrimento do cuidado especializado”.
Ainda de acordo com as denúncias, a direção do hospital tem limitado o acesso de pacientes, antes atendidos a partir dos 60 anos, para apenas aqueles com 80 anos ou mais. Uma mudança que, na prática, exclui uma parcela significativa da população idosa que ainda necessita de acompanhamento contínuo para lidar com doenças crônicas e questões multifatoriais do envelhecimento.
“É um ataque direto a uma população que já enfrenta inúmeras barreiras no acesso à saúde”, alertam os profissionais.

Criado como unidade de alta complexidade da rede estadual, o Hospital do Idoso surgiu para preencher uma lacuna na atenção especializada aos pacientes mais velhos, que muitas vezes ficam espremidos entre a atenção básica sobrecarregada e os serviços de urgência que não dão conta da complexidade de seus casos.
Agora, segundo os denunciantes, há uma tentativa de descaracterizar o papel da unidade. Um dos sinais disso seria a proposta de mudança de nome de “Hospital do Idoso” para “Ambulatório de Geriatria”. Com essa mudança, pacientes que deveriam receber cuidado multidisciplinar em ambiente especializado passam a ser encaminhados à atenção básica que, segundo os próprios profissionais da saúde, não tem estrutura nem equipe preparada para lidar com essa faixa etária de forma adequada.
Os servidores também alertam que o enfraquecimento do ambulatório pode gerar efeitos em cascata como o aumento na desassistência, sobrecarga nos pronto-socorros e internações evitáveis. A quebra da continuidade do cuidado, princípio central do Sistema Único de Saúde (SUS), pode ainda agravar a situação clínica de muitos idosos, já fragilizados por doenças como diabetes, hipertensão, demência e outras comorbidades.
O temor dos trabalhadores é que o processo em curso siga o mesmo caminho da tentativa de encerramento da Nefrologia. Na ocasião, o serviço só foi mantido após forte mobilização de pacientes e repercussão pública. “Agora, a nova vítima parece ser o ambulatório que atende pessoas idosas — justamente aquelas que muitas vezes não têm voz ativa nem meios de reivindicar seus direitos.”
Maioria idosa
A denúncia também reforça que o Brasil caminha para se tornar um país de maioria idosa. Estimativas do IBGE apontam que, até 2050, mais de 30% da população terá 60 anos ou mais.
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, instituída pela Portaria nº 2.528/2006, prevê a garantia de acesso qualificado a serviços especializados que promovam a autonomia e a qualidade de vida. O que está ocorrendo, segundo os denunciantes, vai na contramão dessas diretrizes.
“A população idosa merece respeito, cuidado especializado e políticas públicas de valorização — não o abandono”, afirma a nota.
O que pedem os trabalhadores
Entre as demandas apresentadas pelos profissionais, estão a interrupção imediata do desmonte do ambulatório, a reposição das equipes retiradas, a manutenção do Hospital do Idoso como unidade de alta complexidade e a realização de audiência pública para debater o futuro da instituição.
Eles também cobram transparência da presidência da Fundação Hospitalar (Fundhacre), responsável pela gestão da unidade, e a abertura de diálogo com a Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) e o Conselho Estadual de Saúde.
O Proa entrou em contato com a Sesacre e aguarda posicionamento oficial. Até a publicação desta matéria, não houve retorno por parte da assessoria de comunicação da pasta.
Confira nota na íntegra
NOTA DE DENÚNCIA À IMPRENSA
Desmonte do Ambulatório do Hospital do Idoso: um ataque silencioso aos direitos da pessoa idosa
Gostaríamos de denunciar à sociedade e aos meios de comunicação uma grave situação que está ocorrendo no Hospital do Idoso, referência no atendimento especializado à população idosa.
A atual gestão tem promovido, de forma silenciosa e progressiva, o desmonte do Ambulatório do Idoso, retirando profissionais qualificados que atuam há anos no cuidado integral à pessoa idosa. Essa substituição arbitrária da equipe experiente indica a intenção de encerrar o serviço, priorizando estruturas genéricas em detrimento do cuidado especializado.
Essa mesma tática foi tentada anteriormente com o setor de Nefrologia, mas, diante da mobilização de pacientes e da repercussão pública, a tentativa fracassou. Agora, a nova vítima parece ser o ambulatório que atende pessoas idosas — justamente aquelas que muitas vezes não têm voz ativa nem meios de reivindicar seus direitos.
Trata-se de uma decisão desrespeitosa, que vai na contramão das diretrizes do Estatuto do Idoso e dos princípios do SUS. Encerrar esse serviço é um ataque direto a uma população que já enfrenta inúmeras barreiras no acesso à saúde.
Pedimos a atenção da imprensa e da sociedade civil para essa situação. Não se pode permitir que um serviço tão essencial seja encerrado sem diálogo, transparência ou justificativa técnica.
A população idosa merece respeito, cuidado especializado e políticas públicas de valorização — não o abandono.