Crise na RBTrans: Aliados de Bocalom pedem afastamento de Clendes Vilas Boas e CPI ganha força na Câmara

Parlamentares apontam necessidade de garantir imparcialidade nas investigações após série de denúncias de assédio moral contra Clendes Vilas Boas.

A crise envolvendo o superintendente de Transportes e Trânsito de Rio Branco (RBTrans), Clendes Vilas Boas, ganhou novos desdobramentos nesta terça-feira (19). Dez vereadores da base do prefeito Tião Bocalom, o chamado “bloquinho”, protocolaram um requerimento pedindo o afastamento temporário do gestor em meio à sequência de denúncias de assédio moral apresentadas por servidores e ex-funcionários da autarquia de trânsito. Esse já é o terceiro pedido com o mesmo teor levado ao plenário.

O documento defende que o afastamento é necessário para garantir a ampla defesa do acusado, preservar a imparcialidade da apuração, proteger testemunhas e assegurar a credibilidade da administração municipal. “O afastamento cautelar é medida indispensável para proteger tanto a investigação quanto o próprio servidor”, diz o texto assinado por Aiache, Moacir Júnior, Leoncio Castro, Bruno Moraes, Samir Bestene, Márcio Mustafá, João Paulo e Felipe Tchê.

O prefeito Tião Bocalom se manifestou sobre o caso em entrevista, afirmando que não pretende afastar Clendes Vilas Boas do cargo. Ele classificou as acusações como “apócrifas” e disse que o superintendente está “mexendo em interesses promíscuos dentro da RBTrans”.

“Afastar por quê? Denúncias apócrifas. Não tem denunciante. São os insatisfeitos com o trabalho honesto, sério, que ele está fazendo e que está mexendo em interesses promíscuos que prevaleceram nos velhos tempos! Hoje está muito fácil destruir a reputação de alguém que não atenda aos seus interesses”, declarou o prefeito.

CPI em andamento

Enquanto o pedido de afastamento é protocolado, vereadores da oposição articulam a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para aprofundar a apuração das denúncias contra Vilas Boas. Segundo o vereador Éber Machado (MDB), já foram colhidas cinco assinaturas, restando duas para atingir o mínimo necessário.

“Estamos recolhendo assinaturas para a CPI do assédio. Já conseguimos cinco e ainda faltam duas. Se esta Casa virar as costas para a investigação, estará legitimando as acusações feitas por esse canalha contra o parlamento. Não podemos aceitar isso, até porque já tivemos vereadores que foram vítimas de assédio moral e perseguição. Este é o momento de a nossa Casa fazer justiça por essas vítimas”, declarou Éber Machado.

O vereador André Kamai (PT) também reforçou a necessidade da investigação parlamentar. “Recebemos uma enxurrada de denúncias de servidores da RBTrans. Primeiro uma denúncia anônima, que talvez tenha dado coragem aos servidores que não tinham voz. Receber esse conjunto de denúncias e ignorar é, no mínimo, prevaricar com a nossa função”, destacou.

Novas denúncias

As acusações contra o superintendente começaram com uma carta anônima entregue à Câmara e ganharam repercussão após a ex-servidora Marília Rodrigues relatar, em vídeo publicado nas redes sociais, que também foi vítima de assédio moral praticado por Clendes.

Nos dias seguintes, outros servidores se manifestaram, incluindo os agentes da RBTrans Denise Santos de Souza e Jonatas Lius, que foram recebidos pelos vereadores nesta terça-feira (19).

“Ele está promovendo a discórdia dentro da RBTrans, colocando os servidores uns contra os outros. Ele protege quem o apoia e usa essas pessoas para coagir os demais”, disse Denise.

Já Jonatas reforçou a necessidade de uma apuração independente: “A gente gostaria de reforçar para que as investigações realmente possam ser feitas. Muitas pessoas estão vendo a situação e as próprias palavras dele agem contra ele. Tem que ter uma investigação”.

O Na Proa da Notícia conversou com servidoras da RBTrans que confirmam as denúncias e descrevem um ambiente de trabalho hostil, mas pediram para não serem identificadas por medo de represálias. Uma delas relatou favorecimento político, humilhações públicas e desrespeito a direitos trabalhistas.

“O gestor favorece determinadas pessoas por questões políticas, enquanto ignora direitos garantidos por lei, como a aceitação de atestados médicos e intervalos para lanche e almoço. Além disso, são frequentes comentários constrangedores feitos de forma pública, expondo e humilhando trabalhadores diante de todos.”

Ausência no plenário

Apesar de ter prometido comparecer à sessão desta terça (19), Clendes Vilas Boas não esteve presente no plenário. Ele havia se reunido na véspera com parlamentares da base da prefeitura, em encontro a portas fechadas. Segundo informações apuradas, o superintendente teria sido orientado a não participar da sessão.

Clendes Vilas Boas nega as acusações e classificou as denúncias como “tentativa de assassinato de reputação”.

Próximos passos

Enquanto a base da prefeitura insiste no afastamento cautelar, a oposição avança com a coleta de assinaturas para a CPI. O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) já acompanha o caso após denúncias feitas anteriormente por servidoras e ex-servidoras da RBTrans que relataram sofrer perseguições, humilhações e abuso de autoridade no ambiente de trabalho.

“Entendemos que a CPI é um instrumento constitucional, mas também confiamos no Ministério Público. Todo tipo de assédio é grave, e o afastamento é uma medida que poderia ser tomada pelo próprio Clendes, de bom grado, para que as investigações ocorram da melhor maneira possível. Se não tem nenhuma culpa, não tem porque ter medo de investigar”, disse o vereador Aiache.

As primeiras queixas foram apresentadas na última terça-feira (12) na Câmara Municipal de Rio Branco pelos vereadores Éber Machado e André Kamai. De acordo com os parlamentares, em uma carta anônima, pelo menos três mulheres relatam terem sofrido comentários íntimos, investidas físicas e ameaças de demissão, condutas que podem configurar assédio moral.

Segundo o MPAC, após a repercussão das denúncias, o Centro de Atendimento à Vítima (CAV) iniciou o acolhimento das supostas vítimas, colhendo depoimentos e reunindo documentos que possam comprovar os fatos. As denúncias apontam para situações de abuso de autoridade e comportamento hostil atribuídos ao gestor.

O órgão informou que o atendimento inclui suporte psicológico e orientação jurídica, e que permanece à disposição para receber novos relatos. Ao final das oitivas, o MPAC poderá solicitar a abertura de inquérito policial para aprofundar as investigações.

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