COP30 começa em Belém com apelo por ação climática urgente e foco na transição energética

Primeira conferência do clima realizada na Amazônia reúne 50 mil pessoas e marca o início de duas semanas decisivas para transformar promessas em compromissos.

Belém amanheceu nesta segunda-feira, 10 de novembro, sob os olhos do mundo. A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) começou oficialmente na capital paraense e faz história ao ser a primeira realizada em território amazônico. O evento reforça a centralidade da floresta nas decisões que definirão o futuro do planeta.

Nas próximas duas semanas, cerca de 50 mil pessoas entre líderes mundiais, diplomatas, cientistas, empresários, povos indígenas, quilombolas e ativistas estarão reunidas para debater medidas concretas contra a crise climática.

A Cúpula de Líderes, encerrada na sexta-feira (7), já indicou as prioridades políticas do encontro:

  • 1. acelerar a transição energética,

  • 2. ampliar o financiamento climático e

  • 3. proteger as florestas tropicais

A conferência entra agora na fase técnica, quando os discursos precisam se converter em compromissos, metas, prazos e recursos definidos.

A COP30 e o simbolismo amazônico

A escolha de Belém para sediar a COP30 é simbólica. Pela primeira vez, o evento ocorre dentro da maior floresta tropical do planeta, responsável por abrigar cerca de 10% da biodiversidade global e influenciar o regime de chuvas em todo o continente sul-americano.

A Amazônia ocupa posição central nas discussões climáticas por duas razões. A primeira é o papel da floresta como reguladora do clima, absorvendo bilhões de toneladas de carbono todos os anos. A segunda é o risco crescente de colapso ecológico causado pelo desmatamento e pela pressão de atividades econômicas predatórias.

Realizar a conferência na Amazônia é um alerta sobre a interdependência entre o destino da floresta e o equilíbrio climático da Terra. Além disso, o encontro amplia o protagonismo dos povos indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais. O Pavilhão dos Povos da Floresta, espaço oficial dentro da conferência, abrigará debates sobre governança ambiental, saberes tradicionais e direitos territoriais.

O que é a COP30

A COP30 é a 30ª edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, criada em 1992 durante a ECO-92, no Rio de Janeiro. O encontro reúne 197 países signatários do tratado internacional que busca estabilizar as emissões de gases de efeito estufa e evitar o colapso climático.

Desde a primeira edição, em Berlim, em 1995, a COP se tornou o principal espaço global de negociação sobre o clima. Foi nesses encontros que nasceram o Protocolo de Kyoto, em 1997, e o Acordo de Paris, em 2015, marcos históricos no combate à crise ambiental.

A conferência ocorre em um momento de crescente urgência. Segundo o observatório europeu Copernicus, outubro de 2025 foi o terceiro mais quente já registrado, com uma temperatura média global de 15,14 °C — 0,7 °C acima da média de 1991 a 2020 e 1,55 °C acima do período pré-industrial.

Por causa desse recorde e de meses anteriores, 2025 deve encerrar entre os três anos mais quentes da história.

Os temas centrais da conferência

A agenda de Belém está estruturada em três grandes eixos: transição energética, adaptação climática e financiamento.

Na frente da transição energética, o Brasil pretende liderar o chamado mapa do caminho, um roteiro político e técnico que deve definir metas e responsabilidades de cada país na substituição dos combustíveis fósseis por energias limpas. O objetivo é garantir que a mudança seja justa e inclusiva, considerando as diferenças econômicas e tecnológicas entre as nações.

Outro ponto de destaque é o Objetivo Global de Adaptação, que busca medir o grau de preparo dos países diante dos impactos do aquecimento global. A proposta integra o Marco UAE–Belém para Resiliência Climática Global e pretende avaliar quem está conseguindo se adaptar e quem ainda não tem condições de fazê-lo.

O debate sobre financiamento climático também deve dominar a conferência. O Roteiro de Baku a Belém prevê mobilizar 1,3 trilhão de dólares por ano até 2035, com juros reduzidos e menos endividamento. Sem recursos estáveis, afirmam especialistas, qualquer meta de redução de emissões se torna inviável.

Outro tema relevante é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposto pelo Brasil. O mecanismo pretende gerar recursos permanentes por meio de investimentos de renda fixa e remunerar países que mantêm suas florestas em pé.

O papel do governo Lula

O governo brasileiro vê a COP30 como uma oportunidade de reposicionar o país como protagonista da agenda ambiental e mediador entre o Norte e o Sul Global.

Entre as principais apostas está o Compromisso de Belém pelos Combustíveis Sustentáveis, conhecido como Belém 4X, lançado em parceria com Itália e Japão. A meta é quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035. O governo defende que a eletrificação sozinha não será suficiente para descarbonizar setores como transporte pesado e indústria, por isso aposta em biocombustíveis, biogás e hidrogênio verde.

O Planalto também quer consolidar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre como modelo de financiamento climático duradouro. Já há aportes anunciados de 5,5 bilhões de dólares.

Apesar dos avanços, há críticas sobre a coerência da política energética brasileira, especialmente após o licenciamento de blocos de petróleo na margem equatorial.

Quem faz a COP funcionar

A presidência da COP30 está a cargo do embaixador André Corrêa do Lago, responsável por conduzir as negociações entre os países e buscar consenso sobre o texto final. Ana Toni, diretora-executiva da conferência, coordena as pautas e garante o andamento das discussões.

A ministra Marina Silva tem papel de destaque nas articulações políticas e técnicas e atua como uma das principais porta-vozes do Brasil nas mesas de negociação.

As jornadas de trabalho costumam ser longas e intensas, com reuniões que se estendem até a madrugada e decisões sendo tomadas nas últimas horas.

Expectativas e desafios

Os resultados esperados vão além dos discursos. O principal objetivo é o avanço das novas metas climáticas nacionais, conhecidas como NDCs. Atualmente, as metas em vigor cobrem apenas 30% das emissões globais, o que levaria a uma redução de 4% até 2035. Para estabilizar o clima, seria necessário cortar cerca de 60% das emissões.

Outro ponto central é a consolidação do mapa do caminho da transição energética, que deve orientar as políticas globais de descarbonização nos próximos dez anos.

Durante a pré-COP, realizada em Brasília, a ministra Marina Silva destacou que não é possível falar em implementação de metas sem garantir os meios financeiros e tecnológicos para cumpri-las.

A conferência também deve aprofundar o debate sobre justiça climática, com foco nas desigualdades entre países e nas populações mais vulneráveis aos impactos do clima.

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