Cantor e compositor Sérgio Souto questiona falta de transparência no prêmio Mestres da Cultura do Acre

Artista critica critérios de avaliação e pede esclarecimentos à Fundação Elias Mansur.

O cantor e compositor acreano Sérgio Souto divulgou uma carta aberta em que critica a condução do Prêmio de Mestres da Cultura Popular do Estado do Acre 08/2025. Para o artista, o processo de avaliação técnica carece de transparência e apresenta inconsistências que colocam sob suspeita os critérios utilizados para selecionar os cinco nomes contemplados.

Na carta, divulgada nesta semana, intitulada “A sombra da falta de transparência no Prêmio de Mestres da Cultura Popular do Acre”, o músico escreveu que “um processo que deveria ser luminoso, transparente e justo, acabou envolto em névoas de pareceres obscuros, notas inexplicáveis e escolhas que cheiram mais a apadrinhamento político do que a reconhecimento cultural”.

Souto, que acumula 46 anos de trajetória na música, afirma que recebeu notas máximas de dois jurados, mas foi avaliado com a pontuação mínima por um terceiro. Na visão do compositor, a disparidade evidencia falhas no sistema de pareceres e aponta para possíveis interferências externas no resultado. Ele argumenta que, em um processo destinado a reconhecer mestres da cultura popular, a banca avaliadora deveria ser composta por profissionais com notório saber e experiência consolidada.

“O que se viu foi a soberania de um sistema de pareceres que não se explica, não se abre, não se mostra. Parecerismo virou palavra-chave: um mecanismo que, em vez de valorizar mestres, parece servir para legitimar decisões arbitrárias. Ora, se os jurados julgam mestres, eles próprios precisam ser mestres. Não se pode aceitar que qualquer pessoa recém-chegada, sem vivência, sem chão de cultura, sem poeira de estrada, se sente à mesa para decidir quem carrega o título de mestre da música e da cultura popular acreana”, continuou.

O artista também cobra que a Fundação Elias Mansur (FEM), responsável pelo edital, divulgue publicamente a identidade dos jurados, seus currículos e os critérios empregados na análise. Para Souto, a ausência dessas informações reforça a percepção de que o prêmio não teria seguido parâmetros técnicos de forma equânime.

“Queremos saber quem são esses jurados, quais suas obras, seu currículo cultura’.

A carta levanta ainda questionamentos sobre os nomes selecionados. O compositor pede a divulgação imediata da lista de contemplados, bem como a justificativa para cada escolha, afirmando que, sem essas informações, o processo se torna “estranho” e “sintomático”.

“Queremos saber quem os cinco nomes escolhidos. Queremos saber se suas histórias dialogam com a memória coletiva da cultura acreana. Se isso não for divulgado fica tudo muito estranho: sintomático. O Resultado, dessa falta de transparência, é sinal de que o critério não foi a obra, não foi a trajetória, não foi o reconhecimento popular”, completou.

Ele sugere que fatores políticos possam ter influenciado as decisões. “Foi outra coisa. Foi política. Foi padrinho. Foi conveniência”.

Souto direciona seu apelo diretamente ao presidente da FEM, Minoru Kinpara. Ele defende que o prêmio só terá credibilidade se os procedimentos forem revisados com rigor e se a instituição adotar práticas mais transparentes. Para o artista, a política de pareceres, da forma como vem sendo aplicada, transforma o processo seletivo em um mecanismo de arbitrariedade.

“Por isso, cobro da Fundação Elias Mansur, em nome do Sr. Minoru Kinpara, uma resposta clara, pública e urgente. Não se trata de mágoa pessoal. Eu já tenho o meu mestrado na vida, conquistado no palco, nos 46 anos de estrada, na canção. O que está em jogo é a credibilidade de um prêmio que deveria honrar a cultura popular”, disse.

O compositor encerra a carta afirmando que a democracia cultural só se fortalece quando os processos públicos são claros, auditáveis e conduzidos com responsabilidade. Ele reforça que a cultura popular acreana exige respeito e que o reconhecimento dos mestres precisa ser tratado com seriedade.

“Hoje, os pareceristas são soberanos. Podem dar a nota que quiserem, derrubar quem quiserem, consagrar quem bem entenderem. Isso é sinistro. Isso é perigoso. Isso é a negação da democracia cultural. Um prêmio que deveria ser celebração virou palco de arbitrariedade. Repito: para julgar mestres, é preciso ser mestre. Não se pode brincar com a memória cultural de um povo. Não se pode transformar o reconhecimento em moeda de troca política. O Acre merece mais. A cultura popular merece mais. Os mestres merecem respeito”, finalizou.

Carta na íntegra:

A sombra da falta de transparência no Prêmio de Mestres da Cultura Popular do Acre
Por Sérgio Souto – Cantor e compositor acreano

Há momentos em que a arte, em vez de ser celebrada, é submetida a um tribunal invisível, onde os juízes não são mestres, mas aprendizes de ocasião. Foi exatamente isso que se desenhou no Resultado Final da Avaliação Técnica do Edital Prêmio de Mestres da Cultura Popular do Estado do Acre nº 08/2025. Um processo que deveria ser luminoso, transparente e justo, acabou envolto em névoas de pareceres obscuros, notas inexplicáveis e escolhas que cheiram mais a apadrinhamento político do que a reconhecimento cultural.

O que se viu foi a soberania de um sistema de pareceres que não se explica, não se abre, não se mostra. Parecerismo virou palavra-chave: um mecanismo que, em vez de valorizar mestres, parece servir para legitimar decisões arbitrárias. Ora, se os jurados julgam mestres, eles próprios precisam ser mestres. Não se pode aceitar que qualquer pessoa recém-chegada, sem vivência, sem chão de cultura, sem poeira de estrada, se sente à mesa para decidir quem carrega o título de mestre da música e da cultura popular acreana. Queremos saber quem são esses jurados, quais suas obras, seu currículo cultura.

Recebi nota máxima de dois jurados. Dois reconheceram o peso da minha trajetória, o valor da minha obra, o mestrado que a vida me concedeu. Mas o terceiro, como se fosse dono de um poder absoluto, me deu nota mínima. Essa discrepância não é apenas técnica: é um golpe. É a prova de que, no sistema atual, um único parecer pode derrubar décadas de história. Se tivesse me dado dez, eu estaria entre os cinco classificados. Mas não: a caneta de um julgador anônimo decidiu que eu não merecia.

Queremos saber quem os cinco nomes escolhidos. Queremos saber se suas histórias dialogam com a memória coletiva da cultura acreana. Se isso não for divulgado fica tudo muito estranho: sintomático. O Resultado, dessa falta de transparência, é sinal de que o critério não foi a obra, não foi a trajetória, não foi o reconhecimento popular.

Foi outra coisa. Foi política. Foi padrinho. Foi conveniência.

Por isso, cobro da Fundação Elias Mansur, em nome do Sr. Minoru Kinpara, uma resposta clara, pública e urgente. Não se trata de mágoa pessoal. Eu já tenho o meu mestrado na vida, conquistado no palco, nos 46 anos de estrada, na canção. O que está em jogo é a credibilidade de um prêmio que deveria honrar a cultura popular.

Transparência não é favor: é obrigação.

Hoje, os pareceristas são soberanos. Podem dar a nota que quiserem, derrubar quem quiserem, consagrar quem bem entenderem. Isso é sinistro. Isso é perigoso. Isso é a negação da democracia cultural. Um prêmio que deveria ser celebração virou palco de arbitrariedade.
Repito: para julgar mestres, é preciso ser mestre. Não se pode brincar com a memória cultural de um povo. Não se pode transformar o reconhecimento em moeda de troca política. O Acre merece mais. A cultura popular merece mais. Os mestres merecem respeito.

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