A possível mudança do Centro para a região da Baixada da Sobral tem gerado polêmica entre os moradores que afirmar temer impactos negativos na vizinhança
A polêmica em torno da possível transferência do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), que atende mais de 600 pessoas em Rio Branco, voltou ao centro do debate público durante audiência realizada na Câmara de Vereadores nesta quarta-feira (16). O encontro reuniu moradores da comunidade, autoridades municipais e representantes do Ministério Público do Acre (MPAC).
A mudança do serviço para a região da Baixada da Sobral — uma das alternativas ainda em estudo pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos (Seasdh) — tem gerado apreensão entre moradores de bairros apontados como possíveis destinos. Eles afirmam temer impactos negativos na vizinhança e no funcionamento de serviços públicos já existentes.
“Se alguém for lá ouvir aqueles que frequentam o restaurante popular, vai perceber que não há concordância. Lá tem senhores de idade que não vão se sentir à vontade com o atendimento que ali vai existir. Não é que a gente seja contra, mas ali não é a melhor solução. As pessoas em situação de rua merecem sim um tratamento mais humano e digno por parte do poder público. Mas nós, da Baixada, não concordamos em hipótese nenhuma com a transferência do Centro Pop para lá”, afirmou Lívio Veras, representante da comunidade, durante a audiência.

O vereador André Kamai (PT) criticou o que chamou de crise na política de assistência social no município e reforçou que a mudança de endereço não resolve, segundo ele, “a raiz do problema”.
“Está grave o que está acontecendo no centro da cidade de Rio Branco, mas está muito longe de esse ser um problema das pessoas em situação de rua”, afirmou. Para ele, o que se vê é o resultado do “desmonte das políticas públicas de assistência” e que a gestão municipal opta por “esconder a pobreza” em vez de enfrentá-la com medidas efetivas, como investimentos em moradia e segurança pública.

Kamai também condenou a criminalização da população vulnerável e a falta de políticas econômicas para o comércio local. “Os comerciantes estão falindo porque não há desenvolvimento econômico. Enquanto isso, tentam jogar a responsabilidade para cima dos mais vulneráveis”, disse. O parlamentar defendeu a criação de mais unidades como o Centro Pop e uma abordagem humanizada.
“Nós vamos errar se tentarmos discutir a política para a população de rua a partir dos interesses de qualquer outro setor. Precisamos olhar para essas pessoas como cidadãos, não como obstáculos”, completou.
Kamai propôs a realização de uma audiência pública mais ampla, com a participação de moradores, especialistas, gestores e representantes da sociedade civil, para aprofundar o debate e buscar soluções efetivas e coletivas para a questão.