Associação que atende pessoas com autismo no Acre pode fechar as portas por falta de recursos

Sem apoio financeiro para manter a estrutura, mais de 100 famílias devem ficar sem atendimento especializado a partir de 2026.

Único espaço gratuito voltado a crianças, adolescentes e adultos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Acre, a Associação Família Azul (AFAC) anunciou que poderá encerrar as atividades em dezembro deste ano. O motivo é a falta de recursos financeiros e a ausência de novas emendas parlamentares para manter a estrutura, que só em 2024 realizou mais de 7 mil atendimentos especializados.

A notícia foi comunicada oficialmente durante uma assembleia com pais e responsáveis no início de julho. O possível fechamento deve afetar diretamente mais de 100 famílias que dependem dos serviços terapêuticos oferecidos pela associação.

“Hoje a gente vive uma angústia. A gente tentou de tudo, mas até agora 2026 chegará sem nenhum recurso assegurado. Só temos R$ 20 mil em conta, o que cobre apenas oito meses de aluguel”, disse Heloneida, coordenadora-geral da AFAC.

Além do risco de encerrar todas as atividades em dezembro, o mês de julho já marca o fim da natação terapêutica, uma das atividades mais aguardadas pelas crianças assistidas.

Notícia foi comunicada oficialmente durante uma assembleia com pais e responsáveis no início de julho. Foto: Ascom/AFAC

Para muitas famílias, a AFAC é o único meio de garantir diagnóstico e acompanhamento especializado. É o caso de Renata Oliveira, mãe de Lucas, de seis anos. Foi na associação que ela conseguiu o laudo de autismo nível 1 do filho, algo que não tinha previsão de ser feito pelo SUS.

“Ele teve acesso à psicóloga, atividades motoras. Eu não tenho como pagar por isso. É angustiante saber que vai acabar”, lamenta.

Carla Menezes, mãe da pequena Manuela, de três anos, também teme ficar sem atendimento. “Ela era totalmente não verbal. Depois de três meses de terapia aqui, começou a repetir palavras, imitar sons. Ver esse espaço fechar é como se arrancassem de nós a única esperança”, conta, emocionada.

A associação funciona, principalmente, com recursos de emendas parlamentares, o que a torna dependente de indicações políticas a cada ano. Sem financiamento fixo, o futuro da AFAC é incerto, mesmo com as contas em dia e os resultados do trabalho sendo comprovados.

Enquanto esperam uma solução, famílias vivem a angústia de perder um espaço que, para além da terapia, significa acolhimento, dignidade e oportunidade de desenvolvimento.

“Nós não somos números. Nossos filhos têm nome, história, potencial. Mas ninguém escuta. A AFAC está sendo silenciada não pela falta de demanda, mas pela falta de compromisso com vidas como a do meu filho”, desabafa Renata.

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