Aos 93 anos, Raoni ergue a voz contra a exploração de petróleo na Amazônia

Líder Kayapó faz apelo durante a COP30, em Belém, e critica projetos que ameaçam rios, terras e povos da floresta.

Aos 93 anos, o cacique Raoni Metuktire voltou a erguer a voz. Diante de uma plateia lotada no espaço do Ministério Público Federal (MPF), na área de livre acesso da COP30, em Belém, o líder Kayapó fez um apelo contundente contra a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas e denunciou as ameaças que, segundo ele, continuam a colocar em risco a floresta e os povos que nela vivem.

“Eu quero falar mais uma vez. Me escutem com atenção. Vamos nos unir. Nós não podemos permitir que essa perfuração aconteça. Nós temos que ser fortes e continuar lutando para que não seja feita essa perfuração”, disse o cacique, sob aplausos, em referência à autorização dada pelo Ibama à Petrobras para perfurar o bloco 59, a 175 quilômetros da costa do Amapá, uma das áreas mais sensíveis da Margem Equatorial.

A autorização foi concedida poucos dias antes do início da Conferência do Clima da ONU. Reconhecido mundialmente pela defesa dos direitos indígenas, Raoni manifestou solidariedade à população do Oiapoque, no Amapá, região afetada pelas ações da Petrobras.

Em entrevista à agência Reuters, o cacique lamentou que projetos de desenvolvimento continuem priorizando empreendimentos que ameaçam os territórios e os rios da Amazônia. Falando em kayapó, com tradução feita por seu neto, ele disse que tais iniciativas trazem consequências graves para indígenas e não indígenas.

“Esses projetos destroem rios e terras e continuam. Eu não estou gostando. Vai ser muito ruim para nós, e para vocês também. Vocês mesmos estão trazendo as consequências para vocês. A destruição continua fazendo com que a floresta não tenha vida”, afirmou.

Entre as obras que cita estão o asfaltamento da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, e a construção de hidrovias. Para ele, essas iniciativas, somadas à corrida pelo petróleo, representam uma ameaça direta às comunidades tradicionais e à própria sobrevivência da floresta.

“Esses projetos são uma ameaça à floresta, aos povos indígenas e também ao restante da população”, reforçou.

A relação entre Raoni e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é antiga. O cacique subiu a rampa do Planalto ao lado de Lula em 2023, no ato simbólico de posse. Mais de um ano depois, ele cobra o que considera uma promessa ainda não cumprida: a demarcação das terras indígenas.

“Eu tinha falado para o Lula quando nos encontramos antes dele assumir a Presidência que era preciso demarcar as terras indígenas, para que finalmente meu povo e meus parentes possam ter suas terras por direito”, afirmou. “A demarcação é muito importante para a proteção das terras.”

Apesar de reconhecer avanços pontuais, o líder Kayapó critica a lentidão e aponta incoerência entre o discurso e a prática do governo.

Raoni participou da Rio92, conferência que marcou o início das discussões globais sobre o clima, e lembra que o alerta indígena continua o mesmo.

“Quando tinha floresta em todos os lugares, eu fui nessa reunião para falar sobre a floresta. Eu tinha falado que nossa floresta tinha que ser mantida em pé. E mesmo assim eles continuaram destruindo tudo”, recordou.

Três décadas depois, sua mensagem mantém a urgência. “Vocês, não indígenas, talvez devessem ter ouvido. Precisam pensar nos seus filhos e nos seus netos, para que a floresta possa viver e contribuir com a vida das novas gerações.”

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