Acre registra crescimento no número de etnias indígenas e mantém juventude como guardiã das línguas maternas

Novo recorte do Censo 2022 revela aumento da diversidade étnica no estado e papel central da juventude na preservação cultural.

O número de etnias indígenas registradas no Acre cresceu 40,35% entre 2010 e 2022, passando de 57 para 80, segundo dados do Censo Demográfico 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última sexta-feira (24). O estado, conhecido por sua diversidade cultural na Amazônia, mantém a juventude como protagonista na preservação das línguas maternas indígenas.

Entre as etnias acreanas, as três maiores em número de integrantes são: Kaxinawá, com 13.929 pessoas; Kulina Madijá, com 2.288; e Yaminawá, com 2.365. O grupo Kaxinawá é também o que apresentou o maior crescimento nas últimas décadas, passando de 7.567 pessoas em 2010 para 13.929 em 2022, um aumento de 90,46% e taxa média de crescimento anual de 5,52%.

Além do crescimento populacional, o Acre se destaca no país pelo número de jovens indígenas que falam sua língua materna. Entre os 29.520 indígenas com 2 anos ou mais, 15.752 estão na faixa de 2 a 19 anos e, desses, 10.048 utilizam a língua indígena no ambiente doméstico. Isso significa que 63,79% dos indígenas jovens falam a língua materna em casa, reforçando a continuidade cultural entre as gerações.

No contexto nacional, o Acre lidera a lista de estados com maior proporção de jovens indígenas falantes da língua materna, com 55,18% da população nessa faixa etária mantendo o idioma. Outros estados que se destacam nesse indicador são Maranhão (53,91%), Mato Grosso (53,46%), Tocantins (53%), Pará (52,34%), Paraíba (51,71%) e Minas Gerais (50,04%).

Acre lidera a lista de estados com maior proporção de jovens indígenas falantes da língua materna. Foto: Juan Vicent/Proa

O crescimento do número de etnias e línguas indígenas no Brasil também é expressivo. De acordo com o IBGE, o país passou de 305 para 391 etnias entre 2010 e 2022, e o número de línguas indígenas aumentou de 274 para 295.

A gerente de Povos e Comunidades Tradicionais e Grupos Populacionais Específicos do IBGE, Marta Antunes, explica que a mudança decorre tanto da atualização metodológica do Censo quanto de um fortalecimento do sentimento de autoafirmação entre os povos indígenas.

“Captamos 75 novos etnônimos e fizemos desagregações de etnias que antes estavam agrupadas, refletindo melhor a diversidade real”, afirma Marta. Ela também aponta a influência de etnias transfronteiriças, com mobilidade entre países vizinhos como Colômbia e Venezuela, o que levou à inclusão de oito novas entradas no levantamento.

No panorama nacional, o Acre se mantém entre os estados com maior diversidade de línguas e etnias, mesmo atrás de grandes unidades da federação como São Paulo (271 etnias) e Amazonas (259). O estado também se destaca por manter viva a transmissão cultural entre os jovens, consolidando seu papel como centro de diversidade e resistência cultural na Amazônia.

1140x290-frames
banner-ela-pode-tjac