Ex-presidente, que estava em prisão domiciliar, foi levado à Superintendência da Polícia Federal em Brasília, após aparelho de monitoramento disparar.
A Polícia Federal informou neste sábado (22) que o ex-presidente Jair Bolsonaro disse a agentes ter usado um ferro de solda para violar a tornozeleira eletrônica instalada após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A afirmação ocorreu durante a própria ação de prisão do ex-presidente, registrada em vídeo dentro da casa dele, em Brasília, na madrugada.
No diálogo exibido no registro, uma agente pergunta sobre marcas no equipamento. Bolsonaro responde que aplicou “ferro quente” por curiosidade e esclarece que se tratava de “ferro de soldar”. A servidora comenta que a pulseira parecia intacta, embora o invólucro do aparelho apresentasse violação. Ao ser questionado se tentou arrancar a pulseira, Bolsonaro nega.
Autoridades consultadas pelo g1 afirmam estar perplexas com o episódio, classificado internamente como grave. A avaliação preliminar é de que não houve um mau funcionamento fortuito, mas uma intervenção deliberada. A Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape) prepara um relatório técnico para detalhar o caso. A PF apura os motivos que levaram o ex-presidente a manipular o dispositivo.
A ocorrência se somou a outro fator que elevou a preocupação dos investigadores. Horas antes, o senador Flávio Bolsonaro havia convocado uma vigília nas proximidades da casa do pai. Integrantes do sistema de segurança consideraram que a aglomeração poderia gerar tumulto, criar risco para agentes e apoiadores e dificultar eventual cumprimento de ordens judiciais. O movimento foi interpretado como uma manifestação com potencial político, e não apenas um ato religioso, segundo autoridades ouvidas.
Essa combinação de fatos levou o ministro Alexandre de Moraes a determinar novas medidas. O magistrado entendeu que havia risco concreto de fuga ao analisar tanto a convocação da vigília quanto a violação da tornozeleira. A decisão ampliou o conjunto de restrições aplicadas a Bolsonaro, que já havia sido proibido de usar redes sociais e submetido ao monitoramento eletrônico antes da prisão domiciliar. Ele agora se encontra recolhido na Superintendência da PF em Brasília.
A seguir, a cronologia dos acontecimentos que culminaram na ordem de prisão preventiva.
Por volta das 17h de sexta-feira (21) – Flávio Bolsonaro convoca uma vigília nas redes sociais para ocorrer no sábado (22), nas imediações da casa do ex-presidente, no Jardim Botânico, em Brasília.
Por volta das 23h de sexta-feira (21) – A PF solicita ao STF a prisão preventiva de Bolsonaro. No pedido enviado ao ministro Alexandre de Moraes, a corporação afirma que a vigília poderia atrair grande número de apoiadores e dificultar o cumprimento da pena prevista no processo da tentativa de golpe. O documento cita risco à ordem pública e possibilidade de necessidade de ações coercitivas.
0h08 de sábado (22) – O Centro Integrado de Monitoração Eletrônica registra a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento usado pelo ex-presidente. Moraes anota a comunicação no processo e escreve que a informação indica intenção de romper a tornozeleira, argumentando que a confusão causada pela vigília poderia facilitar uma fuga. O órgão do DF não fornece detalhes sobre casos concretos.
1h25 de sábado (22) – O procurador-geral da República, Paulo Gonet, manifesta que a PGR não se opõe ao pedido de prisão preventiva, destacando a urgência e a gravidade dos fatos novos.
Madrugada de sábado (22) – Moraes decreta a prisão preventiva. O ministro afirma que há indícios de tentativa de fuga e menciona antecedentes de alianças políticas envolvidas em evasões do país. A ordem é para cumprimento pela manhã, sem algemas e sem exposição midiática, com recolhimento na Superintendência da PF.
Por volta das 6h de sábado (22) – A PF chega ao condomínio de Bolsonaro e cumpre a ordem judicial. O ex-presidente é levado em comboio para a sede da corporação, na Asa Sul, onde permanecerá à disposição da Justiça.
As investigações sobre a violação da tornozeleira eletrônica e sobre o contexto que motivou a decisão de prisão preventiva seguem em andamento.


