Cientistas alertam para retrocesso em rascunho da COP30 que omite combustíveis fósseis

Cientistas dizem que omissão ameaça metas climáticas e contraria consenso científico sobre a urgência da crise global.

O texto mais recente das negociações da COP30 divulgado nesta sexta-feira (21), em Belém, provocou forte reação de cientistas de instituições brasileiras e internacionais. O grupo classificou como “grave” a ausência explícita da expressão combustíveis fósseis no documento que orienta a fase decisiva da conferência.

Em nota conjunta, os pesquisadores afirmam que a supressão do tema rompe com a ciência e contradiz compromissos já assumidos pela comunidade internacional. O alerta surge num momento em que países vinham articulando roteiros para reduzir a dependência de petróleo, gás e carvão e para frear o desmatamento.

“Apesar de um grande número de países se unirem em torno de roteiros para acabar com a dependência de combustíveis fósseis e com o desmatamento – e do impulso dado pelo presidente do Brasil – as palavras ‘combustíveis fósseis’ estão completamente ausentes do texto mais recente”, afirmam os pesquisadores em nota conjunta.

Segundo o grupo, deixar de mencionar combustíveis fósseis no texto é incompatível com a urgência climática. O documento afirma que essa omissão representa uma “traição à ciência e às pessoas, especialmente as mais vulneráveis” e aponta incoerência com o objetivo global de limitar o aquecimento a 1,5°C diante do quase esgotamento do orçamento de carbono.

“Isso é uma traição à ciência e às pessoas, especialmente os mais vulneráveis, além de totalmente incoerente com os objetivos reafirmados de limitar o aquecimento a 1,5°C e com o quase esgotamento do orçamento de carbono”, diz o documento.

Os pesquisadores sustentam que um futuro seguro exige mudanças estruturais. O posicionamento aponta que não haverá estabilidade climática sem a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e sem o fim do desmatamento.

“É impossível limitar o aquecimento a níveis que protejam as pessoas e a vida sem eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento.”

A declaração é assinada por Carlos Nobre do Science Panel of the Amazon, Fatima Denton da United Nations University, Johan Rockström do Potsdam Institute for Climate Impact Research, Marina Hirota do Instituto Serrapilheira, Paulo Artaxo da USP, Piers Forster da Universidade de Leeds e Thelma Krug que preside o Conselho Científico da COP30.

Marina Hirota reforça o risco de uma conferência que recue no enfrentamento da crise climática. A pesquisadora afirma que retirar a eliminação gradual dos combustíveis fósseis das negociações compromete a capacidade global de preservar as condições de vida conhecidas hoje.

“A inclusão da eliminação gradual dos combustíveis fósseis é fundamental para a manutenção de vida no planeta da forma como conhecemos hoje. Disso depende a possibilidade de mantermos a estabilidade climática e as condições que temos”, afirma Marina Hirota.

Ela alerta para o avanço dos impactos socioeconômicos caso as promessas não resultem em implementação real. Segundo a cientista, perdas e danos tendem a se intensificar sobretudo por causa de eventos extremos que já ocorrem com frequência crescente.

“Caso isso não seja considerado nos textos que saiam dessa conferência entre as partes e, caso as promessas continuem sendo promessas sem implementação, gradualmente, ou até de forma menos previsível e mais intensa, vamos começar cada vez mais a sentir os impactos socioeconômicos e as perdas e danos recorrentes principalmente dos eventos extremos”, complementou.

Com informações da Agência Brasil

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