Inaugurado em Belém, ambiente no Museu Emílio Goeldi se torna ponto de encontro entre memória, cultura e luta socioambiental.
O legado do seringueiro e ambientalista acreano Chico Mendes ganhou, em Belém (PA), um espaço de celebração e reflexão na COP30. Inaugurado no campus de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, o Espaço Chico Mendes foi criado como um ambiente de encontro entre memória, cultura e ação climática, celebrando a trajetória do líder amazônico e reafirmando o protagonismo dos povos da floresta nas discussões globais sobre o futuro do planeta.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, participou da abertura neste domingo (9) e destacou que o ativista segue inspirando novas gerações de defensores socioambientais.
“Chico Mendes talvez nunca imaginasse que um dia teríamos uma tenda tão bonita e desse tamanho, com esse painel aqui, com a foto dele, com o apoio de tantas instituições governamentais. O que Chico Mendes disse e o que ele fez foram tão fortes e potentes que até hoje projetamos nele nossos sonhos e esperanças. Isso é o que faz de alguém um herói”, afirmou

Para ela, o local simboliza a continuidade de uma luta que ultrapassa o tempo. “Muito do que penso e faço aprendi com o Chico. Que a gente continue honrando esse legado, com coragem, escuta e compromisso com a vida”, disse.
Construído pelo Comitê Chico Mendes, pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e pela Fundação Banco do Brasil, o espaço conta com o apoio do Memorial Chico Mendes, do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Ministério do Meio Ambiente. A programação segue até 21 de novembro e reúne exposições, rodas de conversa, apresentações culturais e experiências sensoriais imersas na floresta.
No local, os visitantes podem interagir com uma réplica da fachada da casa azul onde Chico viveu em Xapuri, no Acre. Entre as atrações estão ainda a Feira da Sociobiodiversidade e as mostras “Chico Mendes Herói do Brasil” e “Memoráveis Margaridas”, que homenageiam mulheres defensoras ambientais.
Na abertura, povos da floresta conduziram um cortejo com o artista Romualdo Freitas, representando o Mapinguari, e o grupo Carimbó do Cuiapitinga, da Ilha do Marajó. A cerimônia reforçou a dimensão simbólica do espaço, que nasceu do desejo de manter viva a presença de Chico Mendes na conferência climática realizada na Amazônia.
“Não poderia haver uma COP30 sem falar de Chico, do seu legado, das reservas extrativistas e da grandiosidade de sua contribuição para a humanidade”, disse Ângela Mendes, filha do líder seringueiro e presidente do Comitê Chico Mendes, em entrevista à Amazônia Real.
Para Edel Moraes, secretária nacional de Povos e Comunidades Tradicionais do MMA, o espaço representa uma caixa de ressonância para as vozes dos guardiões da natureza e reafirma a importância das comunidades tradicionais como protagonistas na resposta à crise climática. “Ele traduz o mosaico da sociobiodiversidade brasileira e a luta por direitos, reafirmando que esses povos são essenciais para uma transição justa e inclusiva”, declarou.
A juventude extrativista também tem papel central nas atividades. No painel “Encontro das Juventudes das Florestas na COP30”, a líder Letícia Santiago de Moraes, vice-presidente do CNS, lembrou a persistência da violência contra defensores ambientais e a urgência de proteger quem vive da floresta. “O mundo precisa das nossas florestas e precisa nos proteger também. Nós queremos apenas viver com dignidade, como qualquer ser humano”, disse.
A neta do seringueiro, Angélica Mendes, destacou que o espaço é também um local de escuta para quem costuma ser excluído dos grandes debates climáticos. “As pessoas da floresta têm voz, mas muitas vezes não são ouvidas. Este é o lugar onde elas podem falar e ter protagonismo, porque são elas que trazem as verdadeiras soluções para este território”, afirmou.
Com informações da Amazônia Real.


