Mulher dá à luz em casa horas após ser liberada de maternidade no interior do Acre

Família acusa unidade de saúde de negligência e diz que bebê nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço.

Mais um episódio envolvendo o atendimento em maternidades do Acre foi registrado nesta terça-feira (4). A jovem Maria Antônia Silva de Souza, de 26 anos, deu à luz em casa, no bairro São José, em Cruzeiro do Sul, no interior do estado, poucas horas depois de ter sido liberada da Maternidade do município.

Segundo familiares, a gestante havia passado a noite anterior internada em observação, com cerca de quatro centímetros de dilatação, mas foi orientada pelo médico que a acompanhava a retornar para casa até que o trabalho de parto avançasse.

Durante a manhã, as contrações se intensificaram e a família decidiu acionar um carro de aplicativo para levá-la novamente à maternidade. No entanto, antes que o veículo chegasse, Maria Antônia deu à luz de forma inesperada dentro da residência, sem a presença de profissionais de saúde.

O parto foi realizado por duas irmãs da gestante. Uma delas, Maria Elisângela Silva de Souza, relatou que o momento foi de pânico e improviso. A criança, batizada como Ísis Valentina, nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço e apresentou marcas na cabeça provocadas, segundo Elisângela, pela compressão.

“Ela dormiu na maternidade, estava com quatro centímetros de dilatação, e o médico mandou ela ir pra casa. Quando as dores aumentaram, chamamos um carro de aplicativo, mas antes que ele chegasse, o bebê nasceu. Durante o parto, eu segurava a mão da minha irmã e fazia pressão na barriga com o braço. Minha outra irmã auxiliou puxando a cabeça da criança, pois a situação era muito grave e a vida de ambas estava em risco. O cordão umbilical estava enrolado no pescoço”, contou.

Elisângela afirmou ainda que a bebê demorou cerca de dois minutos para chorar e apresentava coloração arroxeada. “Fizemos o possível para garantir a sobrevivência dela. A ambulância chegou 45 minutos depois. Se tivéssemos esperado, talvez as duas não tivessem sobrevivido”, disse.

A irmã, que está grávida, classificou o episódio como resultado de negligência por parte da Maternidade de Cruzeiro do Sul e disse se sentir abalada pela situação. “Estou com quase cinco meses de gestação e ajudei no parto devido à negligência da Maternidade de Cruzeiro do Sul. Como futura mãe, sinto tristeza e indignação diante da falta de responsabilidade da administração municipal, que designa profissionais que não demonstram compromisso e amor pela vida.”

De acordo com a família, Maria Antônia havia alertado a equipe médica de que temia não conseguir retornar a tempo para o parto, mas mesmo assim foi liberada. Após o nascimento, mãe e filha foram levadas de ambulância de volta à maternidade e seguem sob cuidados médicos. Segundo os familiares, ambas passam bem.

Ao comentar o caso, o enfermeiro obstetra e gerente de assistência à saúde do Hospital da Mulher e da Criança do Vale do Juruá, Fernando Rossi, disse que a direção revisou os registros do atendimento e não encontrou indícios de falhas.

“Não há nada que nos faça suspeitar de uma assistência imprópria. Ela foi encaminhada à maternidade após o parto e recebeu todo o suporte. Criança e mãe estão bem, aptos a receber alta hospitalar, afirmou.

Caso não é isolado

O caso de Maria Antônia não é isolado. No fim de outubro, um recém-nascido de cinco meses de gestação atendido na Maternidade Bárbara Heliodora, em Rio Branco, foi declarado morto e entregue à família para o velório. Durante a cerimônia, familiares ouviram o choro da criança dentro do caixão e a levaram de volta ao hospital.

O bebê foi internado em UTI neonatal, mas morreu dias depois. O episódio, amplamente repercutido, levou o governador Gladson Cameli a determinar o afastamento da equipe médica responsável pelo atendimento.

Outros relatos de falhas em maternidades do estado também têm vindo à tona, com queixas de demora no atendimento, falta de profissionais e decisões médicas questionadas por familiares. O deputado estadual Edvaldo Magalhães (PCdoB) também denunciou, na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), casos recentes de óbitos infantis registrados em Feijó.

Até o momento, a direção da Maternidade de Cruzeiro do Sul e a Secretaria Municipal de Saúde não se manifestaram sobre o caso.

1140x290-frames
banner-ela-pode-tjac