Quatro municípios acreanos e cinco unidades de conservação aparecem entre os mais afetados pela derrubada de floresta. A Reserva Extrativista Chico Mendes liderou o ranking de destruição.
O desmatamento na Amazônia teve uma queda expressiva de 41% em agosto de 2025, alcançando o menor índice para este mês nos últimos oito anos. Foram destruídos 388 km² de floresta, segundo dados do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD), do Imazon. Apesar do recuo no bioma, o Acre assumiu o protagonismo negativo da destruição, concentrando parte expressiva das perdas, incluindo áreas protegidas e unidades de conservação ameaçadas.
A redução ganha ainda mais relevância porque agosto marca o início do calendário de desmatamento de 2026. No acumulado de janeiro a agosto também houve retração. A Amazônia perdeu 2.014 km² de floresta, o que representa 20% a menos do que no mesmo período do ano passado.
Apesar do avanço, a destruição segue em ritmo elevado. O volume de floresta perdido em agosto equivale a mais de 1,2 mil campos de futebol por dia. Para o pesquisador Carlos Souza Jr., do Imazon, os números devem ser lidos com cautela.
“A redução é significativa em relação ao padrão recente, mas a perda cumulativa da floresta persiste. É necessário reforçar a fiscalização se o Brasil quiser avançar rumo à meta de desmatamento zero até 2030.”
Acre assume protagonismo negativo
O Acre foi o estado que mais desmatou em agosto de 2025, responsável por 26% de toda a floresta derrubada no mês. Dos 388 km² devastados na Amazônia Legal, cerca de 100 km² estavam em território acreano. O estado ficou empatado com o Amazonas, também com 26%, e à frente do Pará, que registrou 23%. Somados, os três responderam por 75% de todo o desmatamento no período.
O mapa do desmate no Acre mostra um cenário crítico. Quatro municípios aparecem entre os dez mais devastados da Amazônia. Feijó perdeu 23 km², Tarauacá outros 20 km², Rio Branco 12 km² e Manoel Urbano 7 km². Somados, esses quatro municípios representam quase 16% de toda a floresta derrubada no bioma no mês.
As unidades de conservação também foram fortemente atingidas. Cinco das dez mais impactadas ficam no Acre.
A Reserva Extrativista Chico Mendes liderou o ranking com 5 km² de floresta destruídos. A perda equivale a 500 campos de futebol. Criada para proteger seringueiros e garantir o uso sustentável da floresta, a reserva simboliza hoje a dificuldade de conter as pressões de madeireiros e grileiros.
Também sofreram perdas a Resex Alto Juruá (3 km²), a Floresta Estadual do Rio Gregório (2 km²), a Floresta Estadual do Mogno (2 km²) e a Resex Riozinho da Liberdade (1 km²).
Segundo a pesquisadora Raissa, do Imazon, os dados mostram que a pressão sobre o território acreano é real. “Em agosto do ano passado, o Acre já havia ocupado a terceira posição entre os que mais perderam floresta. Isso não significa necessariamente um novo padrão consolidado, mas mostra que a pressão sobre o território é real. O monitoramento dos próximos meses é essencial para orientar ações de fiscalização e políticas de prevenção que contenham o avanço do desmatamento”, explica.
Degradação em queda, mas ainda preocupante
A degradação florestal, que inclui queimadas criminosas e extração ilegal de madeira, também apresentou retração. Em agosto a queda foi de 81%, passando de 2.870 km² em 2024 para 559 km² em 2025.
No acumulado de janeiro a agosto a redução chegou a 54%. A área degradada caiu de 6.008 km² em 2024 para 2.744 km² em 2025. Mesmo assim, o volume continua elevado. É a sétima maior marca da série histórica e corresponde à destruição de 1,8 mil campos de futebol de vegetação por dia.
O Acre aparece novamente entre os mais afetados, com 14% de toda a degradação registrada na Amazônia em agosto. Feijó foi o segundo município mais degradado do bioma, com 55 km², e Rio Branco também entrou no ranking, com 20 km². A presença dessas cidades tanto entre os mais desmatados quanto entre os mais degradados indica que o problema no estado combina múltiplas frentes de pressão sobre a floresta.
Mato Grosso liderou a degradação no mês com metade da área afetada, seguido pelo Pará, com 22%, e pelo Acre. Juntos, os três estados somaram 484 km² de florestas degradadas, uma área maior que a cidade de Curitiba.
Perspectiva
Os números de agosto trazem alívio, mas especialistas alertam que a Amazônia ainda sofre perdas severas e contínuas. Para a pesquisadora Manoela Athaíde, é fundamental agir de forma estratégica. “Os dados mostram uma queda importante, mas o desafio é transformar esse recuo em uma tendência estável. O risco é que a redução seja apenas uma oscilação, como já ocorreu em outros períodos.”
Apesar da queda histórica no desmatamento, o Acre manteve-se como protagonista negativo, concentrando grande parte das perdas em áreas protegidas e municípios críticos. O resultado reforça a necessidade de políticas públicas eficazes e fiscalização permanente para impedir que o avanço do desmate e da degradação comprometa a recuperação da floresta amazônica.
Com informações do Imazon