Após protestos, presidente da Câmara sinaliza recuo sobre PEC da Blindagem e anistia: ‘pautas tóxicas’

Hugo Motta admite “pautas tóxicas” e promete focar em agenda econômica após mobilizações em todo o país.

Um dia depois das manifestações em todas as capitais contra a anistia a condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro e contra a PEC da Blindagem, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou nesta segunda-feira (22) que “é o momento de tirar da frente todas essas pautas tóxicas”. O recuo ocorre após forte reação popular e resistência no Senado às propostas.

As declarações de Motta foram dadas durante um evento voltado ao mercado financeiro, em São Paulo. Segundo ele, a Câmara viveu “a semana mais difícil e mais desafiadora” ao pautar a PEC da Blindagem e a urgência do projeto de lei da anistia.

“É chegado o momento de tirarmos da frente todas essas pautas tóxicas. Talvez a Câmara dos Deputados tenha tido, na semana passada, a semana mais difícil e mais desafiadora. Mas este presidente que vos fala.. nós decidimos que vamos tirar essas pautas tóxicas porque ninguém aguenta mais essa discussão”, disse.

Motta disse que o Brasil precisa “olhar para frente” e priorizar temas como reforma administrativa, mudanças no Imposto de Renda e segurança pública. Ao comentar os protestos, ressaltou que as manifestações, tanto contra quanto a favor das propostas, demonstram a vitalidade democrática do país.

“Isso demonstra que a nossa população está nas ruas defendendo aquilo em que acredita, e eu tenho um respeito muito grande pelas manifestações populares”, declarou.

Contexto político

A votação da PEC da Blindagem e da urgência do projeto de anistia resultou de um acordo costurado por Motta com o Centrão e parlamentares bolsonaristas. O objetivo do grupo era blindar parlamentares de processos judiciais e anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados.

Para conseguir manter sua liderança na Câmara, Motta contou com o apoio de Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Casa e figura central do Centrão. A articulação, porém, gerou intensa repercussão negativa.

Segundo análises publicadas nos blogs de Andréia Sadi e Valdo Cruz, a reação popular praticamente inviabilizou a tramitação da PEC no Senado neste momento.

As pressões

O Centrão quer aprovar a PEC para frear investigações contra parlamentares, há mais de 80 sob apuração no Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente ligadas ao uso de emendas parlamentares. Já os bolsonaristas pressionam para anistiar Bolsonaro pelos atos de 8 de janeiro.

A união desses interesses garantiu a pauta da última semana, mas também desencadeou protestos em todas as capitais do país no domingo (21), com atos organizados por sindicatos, movimentos sociais e entidades estudantis.

Diante da repercussão negativa, Motta está sendo aconselhado por aliados a abandonar as pautas ligadas à PEC da Blindagem e à anistia e concentrar esforços em votações consideradas “positivas”. Uma delas é o projeto do governo que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil mensais, prioridade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste semestre legislativo.

Para o Palácio do Planalto, o desgaste de Motta pode abrir espaço para avançar com a agenda econômica. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, deve pressionar pela votação do projeto já nesta semana.

Com informações do G1.

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