Ex-servidoras relatam perseguições e constrangimentos após casos chegarem à Câmara de Vereadores.
O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por meio do Centro de Atendimento à Vítima (CAV), está investigando acusações de assédio moral contra Clendes Vilas Boas, superintendente de Transportes e Trânsito de Rio Branco (RBTrans). As denúncias vieram à tona após relatos de servidoras e ex-servidoras sobre perseguições, humilhações e abuso de autoridade no ambiente de trabalho.
As primeiras queixas foram apresentadas na última terça-feira (12) na Câmara Municipal de Rio Branco pelos vereadores Éber Machado (MDB) e André Kamai (PT). De acordo com os parlamentares, em uma carta anônima, pelo menos três mulheres relatam terem sofrido comentários íntimos, investidas físicas e ameaças de demissão, condutas que podem configurar assédio moral.
Após a repercussão, duas ex-servidoras, Marília Rodrigues e Daniela Paiva, também denunciaram publicamente supostas práticas abusivas de Vilas Boas. Marília, que atuava como assessora de comunicação da RBTrans, relatou perseguições, redução salarial sem justificativa, perda de mesa e computador, sobrecarga de tarefas constrangedoras e exigência de cumprimento de demandas fora do expediente.
“Denunciei nas redes sociais porque tentei falar com todos ao redor do prefeito e não fui ouvida. Então resolvi expor para que algo fosse feito, para que as pessoas soubessem o que estava acontecendo e pudessem ajudar”, disse Marília.
A ex-servidora também afirmou que o superintendente exigia que os servidores comprassem perfumes que ele vendia na autarquia, usando veículos oficiais para entregá-los aos clientes. Segundo Marília, os episódios resultaram em crises de ansiedade e depressão. “Não fui só eu, muita gente lá dentro enfrenta o mesmo assédio, mas tem que se calar por medo de perder o emprego”, acrescentou.
Sem apoio interno, Marília pediu demissão em agosto de 2024. Na quarta-feira (13), prestou depoimento formal à Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara de Vereadores, presidida pela vereadora Elzinha Mendonça.
Segundo o MPAC, após a repercussão das denúncias, o CAV iniciou o acolhimento das supostas vítimas, colhendo depoimentos e reunindo documentos que possam comprovar os fatos. As denúncias apontam para situações de abuso de autoridade e comportamento hostil atribuídos ao gestor.
O órgão informou que o atendimento inclui suporte psicológico e orientação jurídica, e que permanece à disposição para receber novos relatos. Ao final das oitivas, o MPAC poderá solicitar a abertura de inquérito policial para aprofundar as investigações.
Clendes Vilas Boas nega as acusações e classificou as denúncias como “tentativa de assassinato de reputação”. Em nota, disse estar pronto para prestar esclarecimentos às autoridades e anunciou medidas judiciais contra os responsáveis.