Falta de vagas coloca Acre e a capital Rio Branco entre os piores do país no acesso à creche, aponta levantamento

Na capital, 34% das crianças enfrentam dificuldades para conseguir vaga; especialistas apontam problemas estruturais e desigualdade no acesso à educação infantil.

Quase metade das crianças de 0 a 3 anos no Acre cujas famílias buscam creche não conseguem vaga.

Um levantamento do Todos Pela Educação, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) e do Censo Escolar, divulgado nesta segunda-feira (11), revelou que 44,4% das crianças nessa faixa etária estão fora da creche. O índice é um dos mais altos do país e muito acima da média nacional, que é de 19,7%.

Na capital, Rio Branco, o cenário também preocupa. Pelo menos 34% das crianças pequenas enfrentam barreiras para frequentar a creche, segundo o estudo. Entre as capitais brasileiras, a cidade ocupa a segunda pior posição, atrás apenas de Boa Vista (RR).

Quase metade das crianças de 0 a 3 anos no Acre está fora da creche, segundo levantamento do Todos Pela Educação. Foto: Reprodução

O estudo aponta que entre as principais causas para a dificuldade no acesso à creche estão:

  • Falta de vagas suficientes
  • Escolas muito distantes das residências
  • Recusa por causa da idade da criança

O Plano Nacional de Educação previa que, até 2024, metade das crianças de até 3 anos tivesse acesso à creche. No entanto, o Brasil fechou o período com 41,2% de atendimento. Apenas 4 em cada 10 crianças de 0 a 3 anos frequentam uma creche no país.

No Acre, o problema é mais grave: além do déficit de vagas para os mais novos, o estado também falha na primeira etapa obrigatória da Educação Básica, a pré-escola (4 e 5 anos). Quase uma em cada cinco crianças dessa idade (18%) está fora das salas de aula, colocando o estado acreano com o segundo pior resultado do país, atrás apenas do Amapá.

O Todos Pela Educação também analisou os dados de acesso para crianças de até 1 ano. o Brasil, só 18,6% estão matriculados em creches, e a dificuldade de acesso atinge um quarto dessa população.

Em Rio Branco, 34% das crianças pequenas enfrentam dificuldades para conseguir vaga em creches. Val Fernandes/Assecom

Famílias pobres são as mais atingidas

A desigualdade social também pesa. Entre os mais pobres, apenas 30,6% dos pequenos estão na educação infantil. Entre os mais ricos, a taxa é de 60%. Os pais de quase 2,3 milhões de crianças afirmam que querem ter acesso à creche, mas não conseguem vaga, moram longe ou tiveram o pedido recusado pela idade.

A distribuição das vagas também é desigual. Crianças do Norte e Nordeste registram as maiores carências e já nascem com menos oportunidades que as do Sul ou Sudeste.

O Acre figura entre os estados com mais dificuldade de acesso, atrás de Roraima. Os que estão em melhor situação são Santa Catarina e São Paulo.

Desafio estrutural

Especialistas apontam que os números refletem um problema estrutural. A insuficiência de vagas e a falta de unidades próximas às comunidades, somadas à baixa prioridade para bebês e à ausência de estratégias para identificar crianças fora da pré-escola, mantêm milhares de famílias excluídas da educação infantil.

“Ainda que haja avanços a serem reconhecidos, o ritmo de expansão do acesso à Educação Infantil segue abaixo do necessário. Sem a adoção de políticas estruturantes para a expansão com qualidade e equidade, o Brasil continuará privando uma parcela significativa de suas crianças do direito à Educação Infantil”, afirma a gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Manoela Miranda.

Para reverter o quadro, seriam necessárias medidas como ampliação da rede pública e conveniada, criação de creches voltadas a bebês, busca ativa para matrícula de crianças na pré-escola e investimentos direcionados a municípios com maior déficit.

O Ministério da Educação afirmou que o PAC abriu mais de 60 mil vagas em creches este ano, principalmente para famílias mais pobres. No Acre, o ministro Camilo Santana anunciou, durante visita ao estado na última sexta-feira (8), a construção de oito novas creches.

O governo do Acre disse que alcançou o segundo melhor índice de alfabetização infantil da Região Norte e que atua em parceria com as prefeituras, responsáveis pela educação infantil.

A Secretaria Municipal de Rio Branco disse reconhecer a falta de vagas em creche. Hoje, segundo o órgão, cerca de 1.800 crianças aguardam por uma vaga. A secretaria também destaca a construção de novas unidades para suprir essa demanda.

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