Pesquisa conduzida junto com a Universidade Federal do Pará traz dados inéditos sobre praias fluviais e reforça a importância de estratégias de conservação.
Por Marinara Lusvard
A biodiversidade aquática da Amazônia está entre as maiores do planeta, mas compreender como ela se organiza e se mantém ainda é um desafio para a ciência. Um estudo recente, publicado em periódico científico internacional, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Acre (Ufac) e da Universidade Federal do Pará (UFPA), revelou novos detalhes sobre a relação entre as condições ambientais e a diversidade de peixes nas praias arenosas do Rio Acre.
Entre junho e setembro de 2017, a equipe percorreu 31 praias fluviais ao longo de 310 quilômetros do rio, entre Brasiléia e Rio Branco. No período, foram coletados 15.627 indivíduos de 60 espécies diferentes, distribuídos em 22 famílias e sete ordens. As amostras permitiram avaliar variáveis como temperatura da água, oxigênio dissolvido, profundidade, transparência, pH, comprimento das praias e velocidade da corrente.

Temperatura como fator-chave
Os resultados mostraram que a temperatura da água é o principal fator determinante para a riqueza de espécies. Praias com águas mais quentes apresentaram maior número de espécies, enquanto a composição das assembleias foi influenciada pela combinação de temperatura, oxigênio dissolvido e profundidade.
Algumas espécies apresentaram preferências marcantes. Knodus orteguasae (piaba) e Creagrutus barrigai foram mais frequentes em praias rasas; Aphanotorulus unicolor (cascudo ou bagre) e Pimelodella howesi (mandi) tiveram maior abundância em águas mais quentes; já Radinoloricaria bahuaja e Galeocharax gulo foram associadas a locais com maiores concentrações de oxigênio dissolvido.

Proteção das praias fluviais
Segundo a equipe, as descobertas reforçam a necessidade de manter a integridade física e ambiental das praias fluviais, áreas que funcionam como pontos de alimentação, proteção e reprodução para diferentes espécies.
“Ampliar o número de estudos sobre ecologia de peixes associados a praias fluviais da Amazônia é fundamental para traçar estratégias de conservação desse tipo de ambiente pouco estudado”, afirma a pesquisadora Mariana Fratari, uma das autoras do trabalho.
Os autores também destacam o papel estratégico das universidades amazônicas na produção científica sobre a região. “Quando a pesquisa é feita por cientistas que vivem e conhecem o território, os resultados se tornam ainda mais relevantes para a conservação”, ressaltam.
Base para políticas públicas
Além de ampliar o conhecimento sobre a fauna aquática, o estudo oferece informações essenciais para compreender como mudanças nas condições ambientais — naturais ou provocadas por ações humanas — podem afetar a biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas. Esse entendimento é considerado fundamental para orientar políticas públicas e ações de manejo que garantam a saúde dos rios e a preservação da fauna amazônica.