Seca: com Rio Acre próximo da cota mínima histórica, Rio Branco decreta emergência

Medida busca ampliar acesso a recursos e agilizar ações para mitigar impactos da estiagem sobre a população.

Com a intensificação da seca em Rio Branco e do baixo nível do Rio Acre, o prefeito Tião Bocalom assinou, na manhã desta quarta-feira (6), o Decreto de Situação de Emergência. A medida, oficializada em seu gabinete, na sede da Prefeitura, tem como objetivo viabilizar ações urgentes para enfrentar os impactos da estiagem prolongada que atinge a capital acreana.

Segundo o perfeito, o decreto tem caráter preventivo e permite que a administração municipal atue com maior agilidade diante do agravamento da crise climática. A estiagem já compromete o abastecimento de água, a qualidade do ar e interfere diretamente na rotina de diversos serviços públicos, especialmente nas áreas de saúde, transporte e atendimento rural.

“O decreto que a gente está assinando neste momento é exatamente para a gente se precaver, porque temos certeza de que o problema da seca já iniciou e pode se prolongar, inclusive piorar muito mais”, afirmou o prefeito.

Rio Acre próximo da cota histórica

No momento da assinatura, o nível do Rio Acre marcava 1,51 metro, com apenas 28 centímetros acima da cota mínima histórica, 1,23 metro, registrada em setembro de 2024. O baixo volume de chuvas também preocupa. Em todo o mês de julho, foram registrados apenas 8 milímetros de precipitação na capital, segundo a Defesa Civil municipal.

A seca severa tem afetado, sobretudo, comunidades rurais, que enfrentam problemas de desabastecimento e vêm recebendo água em caminhões-pipas por meio da Operação Estiagem. Segundo o coordenador da Defesa Civil tenente-coronel Cláudio Falcão, cerca de 40 comunidades já estão sendo atendidas, número que deve aumentar com o decreto.

“A partir de agora, vamos ter a condição de ampliar e avaliar toda essa operação que tem crescido a cada ano”, afirmou Falcão. “Já extrapolamos nosso raio de ação e, se não agilizar, não conseguimos dar a resposta adequada para as pessoas que estão passando por necessidade.”

Com apenas 1,51 metro, Rio Acre atinge nível crítico e acende alerta na Defesa Civil. Foto: Juan Vicent/Proa

Risco de desabastecimento

a Prefeitura de Rio Branco e o Serviço de Água e Esgoto (Saerb) afirmam que, por ora, não há risco iminente de desabastecimento total na capital.

O prefeito Tião Bocalom admitiu a existência de problemas estruturais nas Estações de Tratamento de Água, especialmente na ETA II, que já teve situação de emergência reconhecida pelo governo federal em maio deste ano.

“Vamos ter muitos problemas na captação no Rio, mas é possível fazer intervenções com máquinas, drenagens, para as bombas continuarem captando água”, disse Bocalom.

O diretor-presidente do Saerb, Enoque Pereira, reforçou que medidas como dragagem e construção de mini barragens devem garantir o fornecimento durante o período crítico. “No passado, o rio ficou em 1,23 metro e conseguimos manter o abastecimento. Não vai faltar água, mas vamos ter que intervir com urgência”, garantiu.

Queimadas

Durante o anúncio do decreto, Bocalom também fez um apelo à população para evitar queimadas urbanas, que agravam a qualidade do ar em meio à estiagem. Embora os níveis de umidade ainda estejam considerados aceitáveis, segundo o gestor, o cenário pode piorar nas próximas semanas.

“Peço que todos evitem colocar fogo em lixo ou fumegar o quintal. A Prefeitura vai passar com os caminhões, tudo programado. Vamos evitar uma tragédia maior”, pediu.

queimadas urbanas, que agravam a qualidade do ar em meio à estiagem. Foto: Juan Vicent/Proa

Expectativa de agravamento

A projeção das autoridades é que os meses de setembro e outubro apresentem um quadro ainda mais crítico. Desde maio, o Acre enfrenta déficit hídrico contínuo, sem previsão de chuvas significativas nos próximos dias.

“Infelizmente, a tendência é de agravamento. Tivemos vários dias sem chuva desde maio, e isso se refletiu diretamente no nível do rio e no abastecimento”, explicou o coordenador da Defesa Civil.

A gestão municipal ainda não estimou o valor a ser investido nas ações emergenciais, mas garantiu que todos os esforços serão feitos para reduzir os prejuízos à população, especialmente à zona rural. “Vamos continuar fazendo o que for necessário. Este já é o quinto ano em que enfrentamos esse tipo de problema”, finalizou Bocalom.

Com o decreto, a Prefeitura de Rio Branco poderá acessar recursos federais de forma mais rápida, realizar contratações emergenciais e ampliar as ações de enfrentamento à crise. A medida também reforça a urgência de estratégias para adaptação e resiliência climática no estado, que tem enfrentado extremos cada vez mais severos, entre enchentes e secas.

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