Por André Kamai
O Brasil inteiro para, no dia 1º de maio, de forma a lembrar a força que constrói este país: o trabalhador. No Acre, essa data carrega ainda mais significado. Aqui, onde o povo vive entre os extremos da floresta e da cidade, a luta por dignidade no trabalho é diária, dura, e muitas vezes invisível. Celebrar o Dia do Trabalhador, portanto, é mais que lembrar conquistas: é reafirmar o compromisso com os que sustentam o país com o próprio suor — principalmente os mais pobres, os excluídos, os que a política tradicional insiste em esquecer.
A história recente do trabalho no Brasil é marcada por resistência. Dos seringueiros que enfrentaram o abandono estatal, às greves dos operários do ABC nos anos 70 e 80 — que forjaram lideranças e movimentos que mudaram o país —, cada passo foi arrancado à custa de organização popular, coragem e solidariedade. No Acre, a luta pela reforma agrária, pela floresta em pé e por políticas públicas de inclusão carrega essa mesma alma: a de quem nunca teve nada de mão beijada.
Entre tantas pautas urgentes, uma das mais cruéis é a imposição da jornada 6×1 — seis dias trabalhados para um único dia de descanso. Essa lógica desumana tem esgotado física e mentalmente milhares de trabalhadores, sobretudo os mais precarizados, que mal conseguem conviver com suas famílias, estudar ou até cuidar da própria saúde. Precisamos romper com esse modelo que trata gente como máquina e naturaliza a exploração. A luta por jornadas justas, com folgas dignas e condições reais de descanso, é uma das bandeiras que precisamos erguer com força. Quem constrói o país também tem direito à vida plena.
Isso nos mostra o quanto enfrentamos, nos dias de hoje, novos e velhos fantasmas. Entre eles, o autoritarismo, o desemprego, a precarização. Vivemos, como eu disse recentemente a sindicalistas e movimentos sociais, um ciclo histórico de golpe continuado — que não começou com Bolsonaro, mas se acentuou com a extrema-direita tentando apagar o que resta da luta popular no país. Enquanto isso, a realidade das periferias de Rio Branco piora. Falta trabalho, falta renda, falta até esperança. E quando se foge do Acre, não é mais para buscar algo melhor — é para tentar sobreviver.
É por isso que este mandato é mais do que um cargo: é um instrumento da luta coletiva. O que fazemos na Câmara Municipal é eco do que ouvimos nas ruas, nas ocupações, nas comunidades esquecidas. Seguimos com os pés no chão batido da cidade e os olhos nas causas do povo. Mobilizar, resistir, reconstruir — essa é a tarefa de quem escolhe estar ao lado dos trabalhadores. E nós escolhemos.
Neste 1º de maio, mais do que homenagens, precisamos de compromisso. Compromisso com o Estado presente, com o investimento público, com a dignidade que o trabalho deve garantir. Compromisso com os desamparados, com os que “menos podem, menos sabem e menos têm”, como bem ensinava a história dos nossos.
A luta não parou. E enquanto houver injustiça, ela não vai parar.
Contem comigo. Vamos juntos. Vamos para a luta.
André Kamai é sociólogo e vereador de Rio Branco (AC) pelo Partido dos Trabalhadores.