Costumes rígidos eram observados com zelo. Não se podia pescar, caçar ou fazer qualquer atividade considerada desrespeitosa.
Nos tempos dos antigos seringais do Acre, a Semana Santa era vivida de forma intensa e profundamente respeitosa. A religiosidade dos seringueiros, enraizada em uma fé simples, mas poderosa, moldava o cotidiano e imprimia um novo ritmo à vida na floresta durante esse período sagrado. Era como se o tempo desacelerasse, envolto por um sentimento coletivo de reverência e introspecção.
O silêncio era uma das marcas mais significativas da Semana Santa. Não se ouvia música alta, nem se via festa ou qualquer tipo de algazarra. As vozes eram contidas, os risos abafados. Havia uma compreensão quase instintiva de que aquele era um momento de recolhimento, de respeito à memória da paixão e morte de Cristo. Os mais velhos ensinavam aos mais novos que, na Sexta-feira Santa, até os galhos das árvores pareciam se curvar em luto.
Costumes rígidos eram observados com zelo. Não se podia pescar, caçar ou fazer qualquer atividade considerada desrespeitosa. Alguns evitavam tomar banho em igarapés ou fazer uso de facas e objetos cortantes, por temor a acidentes em um dia que se acreditava ser sagrado. As refeições eram simples, geralmente à base de peixe ou alimentos sem carne, e havia quem passasse o dia em jejum.
As famílias se reuniam em casa ou nas capelas improvisadas dos seringais para rezar, ouvir histórias bíblicas e relembrar os ensinamentos cristãos. Em algumas comunidades, encenações da Paixão de Cristo eram realizadas, com recursos modestos, mas com grande devoção e emoção.
Era um tempo de conexão profunda com o espiritual, mas também de fortalecimento dos laços comunitários. Na ausência de padres e igrejas formais, os próprios moradores se encarregavam de manter viva a fé, transmitindo valores de respeito, solidariedade e esperança.
Hoje, com o passar dos anos e as mudanças nos modos de vida, muitos desses costumes foram se perdendo. Mas a memória da Semana Santa nos antigos seringais do Acre permanece como um testemunho da fé e da cultura de um povo que, mesmo isolado nos confins da floresta, soube encontrar na tradição religiosa um caminho de sentido, consolo e identidade.