8 de Março: toda mulher é um pouco Maria Aparecida

O dia começa cedo para Maria Aparecida de Moraes Pontes, como sempre começa para tantas mulheres que sustentam o peso de múltiplas jornadas. Aos 34 anos, Aparecida, como é chamada por todos, é dona de casa, faxineira, roçadeira e professora particular. Uma mulher como tantas outras, cuja história é feita de lutas e conquistas.

A vida de Aparecida não foi fácil, ela conta. Aos 16 anos, deixou para trás a infância e a adolescência em Feijó, no interior do Acre, e partiu para Rio Branco, fugindo de um relacionamento abusivo que a aprisionava, mas, sem perder de vista um objetivo: estudar. “Eu sabia que, se ficasse, minha vida não iria para frente. Tinha que arriscar”, relembra emocionada, enquanto roça o primeiro quintal do dia.

Na capital, ela formou sua própria família e, após a separação do marido, enfrentou mais uma batalha, a de assumir sozinha a criação de suas duas filhas, na época com idades entre 2 e 3 anos. Desde então, o sustento da casa vem de seus múltiplos trabalhos, e, apesar do cansaço diário, ela não deixa de reservar um tempo para se dedicar aos estudos.

Hoje, quase duas décadas depois, Maria se prepara para realizar o sonho que parecia distante – em poucos meses, será pedagoga. “Sempre soube que a educação era a chave para mudar minha vida”, diz, com um sorriso que reflete orgulho e determinação. À noite, depois de um dia exaustivo, abre os livros e mergulha nas páginas que a levam mais perto do diploma.

Além de cuidar da própria formação, Aparecida dedica parte do seu tempo a ensinar crianças da comunidade onde mora, no bairro Wanderley Dantas, na periferia da cidade. Em um cantinho da sala de casa, montou um espaço simples com cadeiras e lousa, onde dá aulas particulares de reforço escolar. “Eu sei como é difícil aprender quando não se tem apoio. Se eu puder ajudar essas crianças a terem um futuro melhor, já fico feliz”, afirma, com a doçura de quem entende o valor da educação.

A vida ainda não é exatamente como a jovem Maria de 16 anos sonhava, ela confessa. Mas, apesar das dificuldades, se considera vitoriosa. “Eu venci porque sobrevivi. Porque consegui criar minhas filhas sozinha, porque estou estudando, porque não desisti de mim”, conta com a voz embargada. Suas filhas, hoje com 14 e 15 anos, são seu maior orgulho. “Eu quero que elas tenham uma vida diferente da minha. Que possam estudar, trabalhar, ser independentes, sem precisar passar por tudo o que eu passei”, revela esperançosa.

Neste Dia Internacional da Mulher, Aparecida não espera homenagens. “Pra mim, todo dia é dia de mulher”, diz, rindo. “As mulheres devem ser respeitadas e valorizadas todos os dias, não só hoje. Nós somos capazes de fazer tudo, só precisamos de oportunidades”, defende”. Ela sabe que sua história não é única. Conhece outras Marias, outras mulheres que enfrentam a vida com a mesma coragem. Maria é uma mulher comum. E é exatamente por isso que ela é extraordinária.

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